Foi há dez anos que o vimos ao vivo pela primeira vez. Toumani Diabaté actuava no Anfiteatro Keil do Amaral, em Lisboa, num concerto em parceria com Ali Farka Touré. Na altura Touré apresentou o tocador de kora como “le professeur”, num concerto ao ar livre que foi deliciosamente hipnótico - a dupla editaria ainda nesse ano um histórico álbum em duo, In the Heart of the Moon. Dez anos mais tarde Toumani Diabaté é um nome mais conhecido em Portugal, tendo esgotado o grande auditório da Culturgest. Toumani veio a Lisboa acompanhado pelo seu filho Sidiki, também tocador de kora, para uma actuação em duo.
O concerto arrancou com apenas Sidaki Diabaté, sozinho em palco. O filho mais velho de Toumani mostrou desde logo um invejável domínio técnico da kora, mostrando seguir as pisadas do pai. Apesar de desenvolver um percurso paralelo como produtor de hip hop, é também um excelente intérprete da kora, seguindo a tradição familiar. Após esse primeiro momento a solo, entrou em palco o pai, Toumani. Ouviram-se alguns aplausos mais entusiasmados e o Diabaté mais velho confirmou as expectativas.
Ao longo de mais de uma hora, Toumani & Sidiki desenvolveram uma música intensamente bela. Assente simplesmente em duas koras, com o espectro sonoro necessariamente limitado, o concerto faiscou pela fervilhante imaginação musical, pelo entendimento e diálogo musical entre pai e filho. Pelo meio da actuação, Toumani fez ainda uma apresentação da kora, referindo alguns aspectos técnicos do instrumento. O duo abandonou o palco sob fortes aplausos e uma imediata ovação em pé, sendo obrigado a regressar. A dupla fechou a actuação com um belíssimo encore, com o tema “Lampedusa” (só o título já é um manifesto humanitário), num registo mais lento mas com toda a intensidade melódica.