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Lisboa Soundz
Docapesca, Algés
28/08/2005


O Lisboa Soundz realizou-se na fronteira entre Lisboa e Oeiras, com vista para um rio Tejo sempre belíssimo. Foi anunciado tardiamente, durante o Sudoeste, mas ainda assim conseguiu estar bem composto, num recinto que era como um mini-Super Bock Super Rock e que conseguiu contornar os problemas de mau som que, segundo vários relatos, assolaram a primeira tentativa de realizar um festival na Docapesca de Algés, o Hype@Tejo.

Os Bunnyranch servem para dançar e mais nada. E conseguem aquecer uma plateia. Tudo o resto são meros pormenores, o poder do baterista que canta, do órgão mágico e da guitarra e do baixo sem surpresas, com o verdadeiro espírito do rock'n'roll em grande. Não é nada que seja particularmente interessante em disco, mas é algo que ao vivo vale sempre a pena. A seguir aos Wraygunn, outra das bandas saídas das cinzas dos Tédio Boys, são uma das bandas de rock'n'roll português que é obrigatório ver-se ao vivo.

Os Jimmy Chamberlin Complex existem pura e simplesmente porque Jimmy Chamberlin foi baterista dos Smashing Pumpkins e mais nada. São uma banda que não faz música, mas sim meros exercícios académicos que só interessam a músicos e a fãs de Smashing Pumpkins que são cegos e surdos só porque é o Jimmy Chamberlin a tocar. São três músicos óptimos, mas dentro das divagações de rock progressivo não há uma única melodia ou canção que se aproveite. Baixo, bateria e guitarra, com direito a longos solos entediantes. Jimmy gosta muito de Portugal, diz que foi em Portugal que deu os seus melhores concertos, e fala de como Portugal tem pessoas honestas a apreciar música honesta. É pena que não possamos apreciar a música da banda cuja única função, para além de encher o cartaz, era trazer os fãs dos Smashing Pumpkins a Algés.

Jimmy Chamberlin Complex © Luís Bento

É sempre uma experiência recompensadora ver os Mogwai ao vivo. A terceira banda da noite e a primeira escocesa trouxe o vai acima-vai abaixo de guitarras daquilo a que um dia Simon Reynolds decidiu chamar pós-rock. Cada tema envolve guitarras melodiosas que se vão agrupando, culminando frequentemente numa explosão que transporta todos os ouvintes para outro lado qualquer. Happy Songs for Happy People já tem 2 anos e é um disco que ao vivo funciona bem, com as vozes tratadas em vocoder. É também um disco com um título irónico, nada ali é feliz. Mas também temos de nos lembrar que esta foi a banda que lançou um disco chamado Rock Action porque este não tinha nenhuma acção. A actuação foi curta, como, aliás, foram todas as actuações da noite, agravada pelo facto de os Mogwai não serem uma banda para se ver em festivais, com o público a não compreendê-los (os relatos do concerto deles em Paredes de Coura há uns anos dizem que o público até foi ofensivo), mas com a beleza toda lá. E fechar com o poder de "Mogwai fear Satan", um tema que resume toda a força da banda, é óptimo.

Mogwai © Luís Bento

Os Franz Ferdinand vão lançar este ano o seu segundo álbum de originais. Depois do hype todo gerado à volta de Franz Ferdinand, parece que vão dar-nos mais do mesmo, mas com ainda mais "ooohs" e "aaahs". Mas o mesmo é sempre bom, não fossem os Franz Ferdinand a melhor de todas as bandas revivalistas do pós-punk. Ao vivo é fácil ver porquê. Esqueçamos a produção toda que os envolve, os panos com as caras de todos os membros no fundo do palco. Têm a pinta, têm os riffs de guitarra e a capacidade de encher cada canção com melodias perfeitas ("Take me Out", curiosamente o seu maior êxito, é um óptimo exemplo disso). E ao vivo têm a força e o carisma suficientes para não nos preocuparmos com o facto de cada canção não variar muito entre si. Também ajuda Alex Kapranos ser um sex-symbol para as mulheres, não dizer parvoíces com o seu sotaque delicioso de inglês que passou demasiado tempo na Escócia e ser um verdadeiro frontman que sabe fazer a festa. Conseguem encher as medidas de todos, até daqueles que não são fãs e não conhecem cada canção de trás para a frente (é difícil, já que têm muita exposição, não chegando a ser excessiva). Altamente profissionais, altamente competentes, altamente recomendáveis. E dança-se, dança-se, dança-se, com aquela bateria brutal (a espinha dorsal de tudo) e as guitarras angulares impossíveis de ignorar.

Franz Ferdinand © Luís Bento

O Lisboa Soundz foi talvez uma forma óptima de encerrar os festivais de verão (ainda há um festival com reggae na Ericeira, cujo único verdadeiro mérito é trazer Toots & the Maytals a Portugal) à beira-rio. Apesar do nome, não havia nenhuma banda oriunda de Lisboa, sendo a única banda portuguesa os Bunnyranch, que são de Coimbra. Um festival curto, que foi curiosamente o festival com mais colunáveis e VIPs, com a particularidade de não ter uma área VIP. Mas também, com o Restelo ali em cima e Oeiras e Cascais ali ao lado, e os Franz Ferdinand ainda um bocado na moda, podemos culpá-los?


Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
28/08/2005