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Fachada
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
08-/05/2014


© Vera Marmelo

Para o regresso aos palcos, após uma prolongada pausa sabática de ano e meio, o artista anteriormente conhecido como B Fachada surpreendeu: afinal não fez nenhuma revolução. Fez uma ligeira mudança no nome, deixou cair o B, passou a ser simplesmente Fachada. Trouxe algumas canções novas, mas o passado não foi esquecido e o concerto atravessou alguns momentos do extenso catálogo (um total de 13 gravações, com álbuns e EPs, editados entre 2007 e 2012).

O primeiro dos dois concertos na ZDB, na quinta-feira 8 de Maio, arrancou com “Zé!”, momento de alguma aceitação popular, retirado daquele que terá sido o seu primeiro disco “a sério”, o …Pónei Dourado (2009). Seguiu-se um tema mais recente, “Quem quer fumar com [B] Fachada” (de Criôlo, 2012), com o som a justificar a tshirt “Trojan Records”. Com “Tó-Zé”, aquela do “pepeperapapapaupaupau”, Fachada revisitou o excelente mas frequentemente subvalorizado É pra meninos. A passagem pelos clássicos fechou com “Estar à espera ou procurar”, do homónimo B Fachada de 2009 – com o público a acompanhar toda a letra.

Seguiram-se depois as músicas novas – Fachada confessou que queria ter apresentado mais, mas mostrou já um pacote razoável de novo material. Estas novas canções servem-se de elementos de portugalidade (e muito Minho) em copy-paste sobre ritmo dançante, juntando-se depois o inimitável palavreado fachadês. Só os títulos das novas canções já prometem: “Dá música à bófia” (“a polícia fica louca / quando a canção cabe na boca”, clássico automático), “Um fandango ensaiadinho”, “Pifarinho” (com um pífaro lá ao fundo, em loop, e algumas expressões em alemão lá pelo meio). Ouviu-se ainda outro tema novo que muito promete, cujo título não foi divulgado, com um refrão irresistível: “aparentemente a malta paga p’ra ver”.

O alinhamento oficial terminaria com “Não pratico habilidades”, mas Fachada foi obrigado a regressar para três encores: “Kit de prestidigitação” e “A Casa do Manel”; “Esta terra é a minha terra” (uma versão/adaptação de Samuel Úria para o clássico folk americano “This land is my land”); e “É normal” e “Afro-Xula”, Criôlo a fechar definitivamente noite. O rei voltou.

Na primeira parte tocou Éme, com meia dúzia de canções, polidas e frágeis, que nem parecem oriundas do universo sujo da Cafetra.

Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
12/05/2014