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Forest Swords / Blac Koyote
Musicbox, Lisboa
06-/05/2014


Desde o final do ano passado que Engravings roda com alguma insistência. É um disco especial, de tal forma orgânico que se entranha antes de haver espaço para se estranhar, e isso talvez aconteça porque diz tanto à apatia citadina, como à pacata bonomia interior. É um disco que traz conforto acima de tudo e, ignorado o hype que certamente arrastou a sua quota parte de gente até ao Musicbox, parece ter feito mais pessoas sentir algo igual.

© José Miguel Silva

Num interessante (ainda que nem sempre claro) melting pot de dub, folk e electrónica, a combinação dos instrumentos com a electrónica e, acima de tudo, a voz soporífera e refractada, ajudaram a que as nuances lânguidas de temas como “Thor’s Stone” ou “The Weight of Gold” sobressaíssem em perfeito contraponto com a percurssão pujante. Antes, já tinham sido peças essenciais na criação de corpo e texturas em malhas como “Anneka’s Battle”. E nem era preciso esperar pela convulsa “Friend, You Will Never Learn”, recebida com corpos e ancas em apoteose no final do concerto, para perceber que a música de Barnes tem o seu quê de epidérmico - quando damos por elas, já moram cá dentro, como se sempre tivessem cá estado.

© José Miguel Silva

Não se esperava que Engravings encontrasse réplica exacta num palco e com Barnes a ocupar-se da guitarra, teclados e restante produção, nem se poderia esperar que assim fosse, mas o uso da guitarra e do baixo ajudaram a que se a toada orgânica se mantivesse até ao fim. Mesmo com as descontruções de que foram alvo, e mesmo sem a noção espacial que rege Engravings, a genética própria e distinta de Barnes tornam fácil a nossa identificação emocional e física com a sua música.

© José Miguel Silva

E se Forest Swords tivesse sido uma desilusão, nunca o teria sido Blac Koyote. Um ano depois desde a última vez que tive oportunidade de o ver em palco, é bom de ver que José Alberto Gomes continua a ser um explorador nato. Durante pouco mais de meia hora, Blac Koyote apresentou um exercício de desenho sonoro ímpar e ultra detalhado, que submergiu o Musicbox numa névoa nostálgica reforçada pelas filmagens que iam sendo projectadas. Ficou a vontade de o voltar a ouvir em breve.

António M. Silva
ant.matos.silva@gmail.com
09/05/2014