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Optimus Clubbing - Sun Kil Moon / Thurston Moore
Casa da Música, Porto
29-/04/2014


Declaração de intenções: isto é sobretudo o relato de o encontro. Um encontro há muito tempo adiado – por indisponibilidades várias – com Mark Kozelek. Um encontro de dois desconhecidos. E este é um relato que desmente aquela ideia sempre peregrina de que um texto sobre um disco ou um concerto deve - e tem de - ser algo radicalmente afastado de convicções pessoais. Como se isso fosse realmente possível.

© João Messias/Casa da Música

A altura do encontro era boa. Os Sun Kil Moon acabam de lançar o melhor disco de sempre; Benji é também o melhor disco de Mark Kozelek em muito tempo. E por isso o encontro, para não voltar a usar mais esta palavra, era ainda mais esperado do que seria de esperar. E apesar da distância que a Sala Suggia pode impor num concerto com o intimismo da música dos Sun Kil Moon, um Mark Kozelek especialmente simpático fez com que cada minuto daquela hora e qualquer coisa valesse a pena.

© João Messias/Casa da Música

Para além de trazer a palco algumas das melhores canções do recente Benji, como a fabulosa e enternecedora “I Watched the Film the Song Remains the Same” (nunca ninguém escreveu uma canção assim sobre os Led Zeppelin) ou "Micheline", Kozelek visitou ainda o disco com Jimmy LaValle com uma arrepiante versão de “By The Time That I Awoke”, despojada da electrónica mas perfeitamente vestida pelos arranjos minimalistas dos músicos que o acompanharam em palco. E por isso o encontro – bolas! – foi, apesar de alguns problemas no som, apesar da espera ter sido muito longa, um encontro recompensador. Com ou sem distância, com ou sem isenção (risos), os Sun Kil Moon deram um belíssimo concerto. Para mais tarde recordar.

© João Messias/Casa da Música

E porque a noite prometia ainda um outro sempre prometedor encontro, depois de ver Emperor X aquecer para um DJ Set à altura da sua saudável loucura, foi altura de sentir o pulso às guitarras de Thurston Moore agora que os Sonic Youth parecem coisas do passado. E a verdade é que apesar de os Chelsea Light Moving não serem especialmente entusiasmantes, o concerto em que Thurston Moore apresentou as suas canções a solo foi uma prova de imensa vitalidade. O eterno líder dos Sonic Youth veio à Casa da Música apresentar as canções do seu próximo disco, The Best Day, que será editado em Setembro e que terá uma dedicatória especial à sua mãe.

© João Messias/Casa da Música

Com um irrepreensível Steve Shelley na bateria e um James Sedwards sempre certeiro na guitarra, e apesar do pouco tempo de ensaios que terão tido para preparar estas novas canções, Thurston Moore, com a electricidade no máximo, mostrou o porquê da sua carreira a solo prometer bastante. Longe das experiências mais acíusticas de tempos recentes, Thurston Moore deu um banho de rock tenso, cru e directo. Uma maravilha para os ouvidos, para os saudosistas dos Sonic Youth e para aqueles que vêm naquele gigante-para-sempre-miúdo o sinal de que o rock continua vivo - e que as notícias da sua morte foram claramente exageradas. É estar atento ao seu próximo disco porque se for algo parecido com as canções que Thurston Morre apresentou na Sala Suggia é certo que temos disco. Ah, já tínhamos saudades de um Clubbing assim.

André Gomes
andregomes@bodyspace.net
02/04/2014