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June Tabor / Iain Ballamy / Huw Warren
Teatro Maria Matos, Lisboa
25-/09/2013


Com quatro décadas de actividade às costas, June Tabor é uma lenda viva da folk inglesa. Trazendo um novo projecto na bagagem, Quercus (há disco fresco, editado pela ECM), Tabor fez-se acompanhar no Maria Matos com o pianista Huw Warren e o saxofonista Iain Ballamy. O público encheu o auditório do Teatro Municipal e foi desde logo conquistado por aquela voz – límpida, majestosa: num primeiro momento “a capella”; depois acompanhada pela dupla instrumental.

O concerto arrancou numa toada assumidamente folk, com dois temas da autoria de Joseph Taylor. A voz de Tabor, na sua imensa expressividade, bastava para encher toda a sala. O piano de Warren revelou-se desde logo um acompanhante perfeito, subtil na sua contenção mas sempre essencial, ao aguentar a estrutura harmónica. O saxofone de Ballamy levantou dúvidas, ao início: importante para sublinhar as melodias, mas rapidamente se deixava levar em ziguezagues desnecessários.

Extremamente comunicativa, June Tabor ia explicando, nos intervalos entra cada música, as histórias de cada canção. Disse desde logo que se iria ouvir temas antigos e outros mais recentes, alguns tradicionais e outros originais. Apesar desse aviso, não deixou de soar a surpresa quando se ouviu “Insensatez” de Jobim (na versão inglesa, “How Insensitive”). Estaria June transformada em “chanteuse” de casino, seguir-se-iam mais clássicos brasileiros e da Broadway? Apesar de próxima do original, a interpretação da canção por June foi marcada pela elegância e desde logo se evaporaram eventuais dúvidas sobre o bom gosto da actuação.

 © José Frade

O essencial do alinhamento passou por temas de folk tradicional, canções cujas letras abordam, sobretudo, o amor falhado. Pelo meio, houve espaço para dois duos instrumentais, piano e saxofone, que funcionaram como interlúdios. A isto juntou-se uma outra revisão de um tema popular: “Don’t think twice, is all right”. Em duo de voz e piano, tempo mais lento, June reinventou o clássico de Dylan (já havia gravado em 1993), de forma sóbria e sentida.

Os instrumentistas, mais que competência, revelaram um apurado sentido de eficácia, realizaram um óptimo trabalho no apoio à voz. O piano de Warren foi uma rede de segurança constante e brilhou sobretudo a solo num interlúdio instrumental (“Teares”, original do pianista). Apesar das dúvidas iniciais, o saxofone de Ballamy estabilizou e acabou por se revelar muito focado. O seu som um pouco rugoso, com demasiado ar, funcionou positivamente, ao contrastar com a clareza da voz.

Para o final ficaram guardados dois épicos: “Lassie Lie Near Me”, canção secular, que poderia integrar a banda sonora de Game of Thrones; e o encore quase-hino “All I Ask of You”, original do saxofonista Ballamy, que foi o encerramento perfeito, com a dose q.b. de emoção.

Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
26/09/2013