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Mirror People
Musicbox, Lisboa
21-/09/2013


Musicbox, Lisboa, 2h20 da madrugada. Depois da actuação envolvente dos Small Black, quarteto indie sediado em Brooklyn e com raízes no chillwave, já todos se mostravam a postos para receber o recentíssimo projecto live act de Mirror People. O projecto a solo de Rui Maia – multi-instrumentista dos X-Wife e devoto das artes do disco e da new wave – é já uma referência que conta com lançamentos pela D.I.S.C.O.texas, Permanent Vacations e Gomma, mas que tardava em reproduzir temas como “Kaleidoscope” ou “Echo Life” (que já fazem escola) ao vivo.

© Raquel Rodrigues

Soava ainda “Cul de Sac”, a malha mais cool de sol de 2013, quando o kick de drum machine invadiu o sistema de som do palco lisboeta, e sem darmos por isso começaram a surgir os primeiros sintetizadores, encabeçados pelo enorme MS-20 orgulhosamente colocado na dianteira do set: Mirror People dava assim início a uma ininterrupta jornada de quase hora e meia e que, diríamos sem grandes dúvidas, veio apenas ajudar à consagração de Rui Maia como um dos nomes incontornáveis da música de dança actual. Já o era em estúdio, e ao vivo ganha outra dimensão.

© Raquel Rodrigues

De olhos postos na maquinaria em cima do palco, vê-se que Rui Maia não é tipo de rodeios: “Kaleidoscope”, um dos hinos da Discotexas para 2013, foi logo segunda cartada do alinhamento, deixando prever um set cheio de surpresas. Isto porque, para quem já tratava esta malha por tu, aquilo a que se assistiu foi uma versão totalmente reconstruída, mais espacial, provavelmente, do que a original. Refazer bem o que já de si era bom, é obra, Sr. Maia.

© Raquel Rodrigues

E como se tal não bastasse, ainda deu para tomar tacto a alguns trabalhos mais recentes, como a nova colaboração com Rowetta (depois da incrível “Feel The Need”), Rebeka (a nova voz encantadora da Polónia) e a cover de “Giorgio by Moroder”, claramente um dos momentos da noite, já que a sonoridade de Mirror People ao vivo até um tipo com rastas de quase um metro põe a dançar.

© Raquel Rodrigues

Para terminar a actuação, porque ainda estava para vir Mr. Mitsuhirato, Maia reservou aquele que é para nós um dos temas incontornáveis de 2013: “Machines”, malha pejada de ritmo e sintetizadores no comando das operações, com o calor da maquinaria analógica a impor-se, ao vivo fica outra pedra. Por tudo o que presenciámos, queremos fazer inveja a quem se baldou na noite de sábado. Mirror People parece uma máquina oleada de há anos, quando esta foi apenas a sua segunda performance ao vivo. A continuar assim, não há quem o apanhe.

Simão Martins
simaopmartins@gmail.com
24/09/2013