bodyspace.net


Jazz Ao Centro 2013
Coimbra
30 Mai a 1 Jun//


Concentrada num único fim-de-semana, a edição 2013 do festival Jazz Ao Centro, levou à cidade de Coimbra seis concertos, divididos entre o Centro Cultural Dom Dinis, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, o Teatro Académico Gil Vicente e o Salão Brazil - o já clássico palco dos concertos “after-hours”.



O festival arrancou com a actuação do projecto “Incompleto” no Centro Cultural Dom Dinis, trio liderado por José Valente (aconteceu na quinta-feira, dia 30, não tivemos oportunidade de assistir). Já ao segundo dia, o festival mudou-se para o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, para uma apresentação a solo de Evan Parker. O histórico saxofonista inglês apresentou-se com o saxofone soprano e o tenor, alternando de instrumento entre cada tema. Parker começou por atacar o soprano, construindo um fluxo sonoro intensíssimo. Entre o sopro contínuo na palheta e o irrequieto dedilhar nas teclas e chaves nasciam duas, três ou até mesmo quatro vozes em paralelo (Parker jogou muito bem com a capacidade de reverberação acústica daquele espaço centenário). As peças de Parker geravam uma espécie de transe, uma natureza hipnótica, extasiante. É sempre um prazer ver um génio ao vivo.



Na noite de sábado o TAVG acolheu o reencontro do Ensemble X-Jazz, sob a direcção de Evan Parker. O grupo, que reúne 17 improvisadores portugueses, trabalhou em Agosto do ano passado, durante uma semana sob as ordens de Parker, tendo também na altura actuado ao vivo em alguns locais das Aldeias do Xisto. No palco do TAVG juntou-se o mesmo exacto grupo: João Camões (viola d’arco), Angélica Salvi (harpa), Marcelo dos Reis (guitarra clássica), Miguel Mira (violoncelo), José Miguel Pereira e Hugo Antunes (contrabaixos), Rodrigo Amado, João Martins e Pedro Sousa (saxofones), Luís Vicente (trompete), Travassos e Miguel Carvalhais (electrónicas), Luís Lopes e Gonçalo Falcão (guitarras eléctricas), Gabriel Ferrandini, João Lobo e João Pais Filipe (baterias). O grupo foi criando uma música semi-improvisada, guiada pelas indicações de Parker, que orientou o grupo para uma música feita de momentos muito diferentes, com passagens interessantes, promovendo encontros muito proveitosos. Globalmente foi uma actuação muito focada, com alguns dos momentos mais interessantes a resultarem dos mini-grupos que se foram formando: o encontro da harpa com a guitarra clássica; o trio de percussão, a funcionar como um instrumento único; o solo de saxofone tenor de Amado, apoiado por uma secção rítmica jazzística; a imaginação do contrabaixo de Antunes; o encontro lírico do grupo de cordas com o trompete de Vicente… Mas também colectivamente o grupo mostrou união e força, sobretudo nos crescendos enérgicos. Esperemos que no futuro este grupo de músicos talentosos tenha oportunidade de continuar com o mestre Parker.



Os concertos “after-hours”, que mais uma vez tiveram lugar no histórico Salão Brazil, ficaram a cargo dos Zanussi 5. O quinteto norueguês, liderado pelo contrabaixista Per Zanussi, é apoiado pela bateria forte de Gard Nilssen e tem a arara característica de reunir uma frente de três saxofones: Kjetil Møster, Jørgen Mathisen e Eirik Hegdal. Pegando em composições fortes, o quinteto injectou energia e criatividade, arrancando interpretações inspiradas – sobretudo na última noite. Foram particularmente marcantes as intervenções a solo dos saxofonistas, com destaque para a veia mais animalesca de Møster. Os nórdicos encerraram com chave de ouro mais uma grande edição de um festival que continua a marcar a diferença pela contínua qualidade da programação.

Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
08/06/2013