Quem imaginava que, um dia, seria o rock e não o vinho que faria do Cartaxo local de romarias e
roadtrips? Não que estes sejam mutuamente exclusivos, claro. Mas o que é certo é que a pequena cave do Centro Cultural do Cartaxo se encontrava bastante composta para assistir à estreia dos britânicos The Oscillation por cá, naquela que foi a primeira sessão de 2013 das já famigeradas Cartaxo Sessions - até porque a bizarria de ter um «bife» a organizar concertos de
psych numa cidade quase que perdida a meio do Ribatejo aguça, sem dúvida, a curiosidade. E é também um pequeno sonho para quaisquer miúdos que na impossibilidade de se deslocarem até à capital encontram aqui um remédio santo para o
ennui em que vivem diariamente.
Se Maomé não vai ao rock, vem o rock a Maomé.
© Jesse Viana
Podem-se chegar, ouve-se melhor aqui. É capaz de ser verdade, mas dada a bojarda que os Aspen mandam e mandaram, poderíamos estar em Vila Chã de Ourique que ouviríamos à mesma. O trio esteve no pico da sua forma, expelindo gosma ríffica por toda a sala e proporcionando um momento bonito em que uma dezena de cabeças se alinharam para, em uníssono, praticarem a nobre arte do
headbang como uma adoração ao grande Deus
Stoner.
Winds of Revenge é óptimo, mas ao vivo (decerto um cliché, mas não obstante é verdade) é algo ainda mais poderoso. Poucos conseguem deixar assim um coração aos pulos durante os segundos que antecedem o ribombar dos pratos ao bom jeito
doom. A prova? Um
amp queimado no final, que impediu que os Oscillation começassem a horas. Não se metam com Barcelos.
© Jesse Viana
Com dois discos no currículo, os The Oscillation vieram até cá para mostrar aos sedentos que também sabem misturar psicadelismo com ritmo
kraut, viagens pelo espaço com
riffs terra-a-terra, revivalismos dos noventas com cabeça no século XXI.
Veils, de 2011, foi o mais revisitado, mas houve mais; início calmo em modo de letargia
psych, crescendo a cada instante - muito por culpa da baterista tigresa, a arrasar naquilo que é usualmente um campeonato só de homens -, atingindo o ponto alto com "Telepathic Birdman", malha de
Veils com uma linha de baixo escandalosamente gamada a "Fodderstompf" dos Public Image Ltd. (não que nos importemos) e terminando com uma cascata de
noise no final de "Future Echo", sendo que se lhe seguiu ainda o
encore da praxe. Não foi apenas um belo concerto: foi mais uma razão para continuarmos a apostar no Cartaxo.
© Jesse Viana