bodyspace.net


Orchestra of Spheres / Alexander Tucker
The Shacklewell Arms, Londres
23/08/2012


Às vezes é nos maiores buracos que se encontra a felicidade. O Shacklewell Arms é um desses casos. Pub por fora e por dentro, cave mal iluminada, quente e mal cheirosa ainda mais lá para dentro. Com entrada livre, a noite do número 71 da Shacklewell Lane (em Hackney) oferecia duas propostas muito distintas entre si mas, como se viria a perceber, muito apreciáveis.

A abrir, Alexander Tucker explorou paisagens densas e ricas e, tal como acontece no seu mais recente disco, Third Mouth, encontrou por lá canções de uma beleza e perfeição admiráveis. Depois de definir a ambiência certa para cada canção, por entre noise e batidas lo fi, Alexander Tucker empresta a sua voz a canções que fogem à catalogação espacial e temporal e leva-as para outra dimensão. O resultado? Durante mais ou menos quarenta minutos, o Shacklewell Arms foi palco de uma viagem interminável.

Quando os neozelandeses Orchestra of Spheres subiram ao pequeno palco do Shacklewell Arms, armados de máscaras, óculos e roupas no mínimo originais (o baterista entrou a morder uma flor de plástico e nunca mais a largou), poucos fariam ideia da dimensão do que estaria para a acontecer durante a próxima hora. Imaginem a melhor colheita do krautrock mais entregue ao ritmo, Fela Kuti e toda a áfrica gingante, o melhor do rock psicadélico, polifonias vocais, instrumentos estranhos (um deles lembrava o cruzamento entre uma kalimba thum e steel drums), entre outras delícias. Agora imaginem tudo isto junto.

No espaço de minutos, os Orchestra of Spheres subiram para o dobro a temperatura já elevada da cave do Shacklewell Arms, muito por culpa dos ritmos incendiários, da magnífica parceria entre a bateria e o baixo (tocado num teclado pouco convencional), da africanidade e do hipnotismo das canções que, uma atrás da outra, transformaram o tal buraco no melhor buraco para se estar àquela hora. Apesar do calor, apesar do cansaço, apesar de tudo. A conclusão chegou muito antes do final do concerto: os Orchestra of Spheres têm de ser uma das melhores bandas ao vivo da actualidade. Se o mundo fosse justo estariam a encher estádios todos os dias.

André Gomes
andregomes@bodyspace.net
24/08/2012