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M83 / Porcelain Raft
Hard Club, Porto
11/03/2012


E agora uma pergunta: quantas das pessoas que estavam no Hard Club para ver M83 compraram o último disco dos franceses, Hurry Up, We´re Dreaming? Provavelmente muito poucas. Quantas terão feito download "ilegalizado" do mesmo? Muito provavelmente a maior parte. Quantos investiram o dobro do preço de um CD no bilhete do concerto? Aparentemente perto de 1000 pessoas, que enchiam por completo a sala principal do Hard Club. O alvo mudou mas não haja dúvidas: há cada vez mais pessoas a investir na música. O que deixa muito espaço para pensar sobre os supostos efeitos “maléficos” do download, a criminalização da partilha da música, o fim da indústria discográfica tal como a conhecíamos.

Mas há mais perguntas: como se explica que uma banda praticamente desconhecida como os M83 há coisa de poucos anos encha de forma tão contundente o Hard Club? Duas respostas possíveis: o download, os myspaces, os soundclouds, os youtubes, que tornaram a música tão mais acessível e universal e, segunda hipótese, um disco que aproximou M83 ainda mais do formato canção – ou cristalizou a intenção, como queiram - como nenhum outro até hoje. Canções como “Reunion”, “Intro” (que em disco conta com a voz da maravilhosa Zola Jesus) ou, claro, “Midnight City”, abalaram visivelmente a sala maior do Hard Club - com destaque óbvio para o último tema deste grupo.

E o que é que Anthony Gonzalez fez no Hard Club? Mostrou que ao vivo, tal como em disco, a sua pop de sintetizadores toca em quase todos os pontos nevrálgicos do género e garante, no mínimo, uma excelente dose de entretenimento e, no máximo, momentos excitantes de apuramento pop e beleza. Apesar de momentâneos exageros (abusos na entrega de algumas canções) e de alguma plasticidade do momento, os M83 cumpriram o seu papel com distinção: por esta hora, aquele zumbido pop ainda andará na cabeça de muito boa gente. Inclusive nos ouvidos do italiano Porcelain Raft (que é como quem diz Mauro Remiddi, sozinho em palco), que apesar de ter entregue meia dúzia de canções bem esgalhadas foi muito facilmente eclipsado pela contundência da actuação dos M83. A prova dos nove da porcelana italiana fica para um concerto em nome próprio. A noite foi toda da auto-estrada pop francesa.

André Gomes
andregomes@bodyspace.net
13/03/2012