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Suuns / Ivvvo
Musicbox, Lisboa
2/12/2011


Notou-se que alguns concluíram o mesmo: o primeiro dia do Mexefest não era tão musicalmente interessante como a estreia dos Suuns por cá, e o Musicbox esteve bem composto de gente com e sem pulseiras desse festival que decidiu, em vez de se juntar à multidão, estar presente na pequena sala do Cais do Sodré para testemunhar in loco as canções que fazem de Zeroes QC e dos Suuns a melhor banda de 2010 a ser relevante em 2011. Os canadianos podem reger-se pelo minimalismo, mas o ataque sonoro foi demasiado intenso para que pensemos sequer em coisas minúsculas.

Antes disso o portuense Ivvvo apresentou um bom live de dubstep de traço Burial, beats fantasmagóricos e quase hauntológicos, onde, muito ao estilo do produtor inglês, um sample era processado até se encontrar quase irreconhecível. Dada a natureza da música, e o facto do público se estar a preparar para um concerto rock de seguida, não houve muita gente a fazer da pista de dança o que quisesse, mas ainda causou alguns abanões. É claramente um valor a ter em conta no novo panorama da electrónica nacional.

E depois os Suuns: mudos, com ar apreensivo, uma atitude quase tão carregada como a sua música; as águas lamacentas de "Red Song", single recentemente lançado e que fará parte do disco de 2012, fizeram por comprovar essa visceralidade de que se fala e pensa quando se ouve o rock vestido de electrónica (ou será o contrário?) do quarteto. Uma agressivamente tocada "Arena" só aumenta o mito. Os Suuns são bons, muito bons em disco. Mas ao vivo superam-se a si mesmos, entram em jams instrumentais e ruidosas arraçadas de kraut, não deixam que ninguém fuja ao headbanging ou à dança consoante a disposição: cada tema seu, de "PVC" a "Armed For Peace" e "Gaze" é uma tensão constante que não desaparece, até que finalmente se ouvem algumas palavras de apreço por Lisboa e por Portugal da parte do vocalista e se entra nos territórios sexy-industriais de "Up Past The Nursery", onde a tensão passa a tesão.

"Bambi", o outro lado do single referido há pouco, é uma cavalgada musculada, quase techno, que coloca a banda no grupo dos "indefiníveis"; por misturarem tantos estilos e de forma tão bem conseguida, a única coisa que nos vem à cabeça é o pós-punk, com a ultra-generalidade que o termo acarreta. "Pie IX", das melhores malhas de Zeroes, surge com todo o seu negrume para um mosh em câmera lenta. Uma canção de nome "City", que não conseguimos apontar a qualquer lançamento recente, leva-os até ao funk - estranho e vicioso - e termina com um pulsar noise que desagua noutra canção que se não conhece: "E-Sam", caótica e epiléptica, que seria o último tema, a julgar pelas notas da setlist que se levou para casa como um tesouro, mas ainda houve tempo para um encore com "Mudslinger", retirada ao primeiro EP do grupo, e que encerrou em cheio uma noite que o foi, precisamente. Nós avisámos: quem não esteve no Musicbox ou na Casa da Música no dia seguinte arrependeu-se. Um concerto absolutamente incrível.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
05/12/2011