bodyspace.net


Throes + The Shine / HEALTH / Floating Points
MusicBox, Lisboa
22/10/2011


Podemos encarar o concerto do combinado Throes/The Shine como a despedida definitiva do verão: à hora a que se escreve este texto o estranho calor das manhãs a que se tinha vindo a assistir (e a sentir na pele) é substituído por ventos fortes e pequenas gotas de chuva a molhar a janela. Assim, dizemos adeus ao ritmo africano dançável e aos riffs pesados. O que é triste. Mais triste ainda, às miúdas com calções de ganga curtos que parece já saberem de cor e salteado toda a discografia dos moços. Vemo-nos em Maio. Quanto ao que a(s) banda(s) deverá(o) fazer enquanto o inverno nos obriga a ir ouvir black metal e não black music, fica o conselho: há todo um hemisfério que vai entrar no calor agora. Porque o que é certo é que uma coisa assim, onde não se sabe se nos dedicamos ao headbanging ou a abanar as pernas - na dúvida, façam ambos -, não merece ficar limitada ao país de merda em que nasceu.

Ainda há quem dê tempo de antena a profetas da desgraça, talvez por serem norte-americanos. Supostamente o mundo acabaria ontem para uma pequena facção cristã liderada por um tolo senil com nome de campismo. O que é certo é que quando os HEALTH entram em palco e de logo uma torrente de ruído faz tremer o Musicbox temeu-se que ele pudesse estar certo. There are no atheists in foxholes, diz o ditado inglês. Quando arrancam para "Crimewave" já não há sítio por onde fugir no meio do moshpit, e o vermelho dos Allstar substituído pelo castanho das pisadelas que se leva por parte da maralha indie que nem ali no meio é capaz de largar o raio do Blackberry. Depois da dança estranha de "Death +", da fantástica "We Are Water", de alguns temas novos que não foram recebidos com o mesmo grau de entusiasmo (o que é aceitável) e de um encore em que o baixista se resolve a experimentar também um pouco da arte que há no crowdsurfing, ficou um bom concerto, talvez uns furos abaixo daquilo que se viu no Alquimista há ano e meio, mas bom à mesma. Deus sabe o quanto precisamos de saúde e não de apocalipse.

Ressalva ainda para Floating Points. Samuel Shepherd apresentou-se em formato DJ set, o que é sempre uma pena e torna difícil falar sobre o que se assistiu. Ou será que também há quem faça resenhas sobre o que ouviu na rádio? Piadolas à parte, o britânico deu aos resistentes duas horas de deep house, funk, algum acid e outras coisas que se colocam em itálicos. Quando não fazia dançar era um acompanhamento decente para uma cerveja e um cigarro. E fez com que raparigas normalmente heterossexuais soltassem o seu lado lésbico (bem, alguns decotes também ajudaram). Só por isso deve valer alguma coisa.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
23/10/2011