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Nozinja / Tshetsha Boys
Anfiteatro da Gulbenkian, Lisboa
3/07/2011


Pode-se até começar por dizer que terá sido o melhor Domingo de 2011. Ou por referenciar o ambiente familiar (em todos os sentidos) que se fazia sentir no anfiteatro da Gulbenkian. Ou mesmo que, por momentos, este país se tornou um sítio um pouco melhor para se estar. Mais do que tudo isso, foi prova cabal de que a música tem mesmo a capacidade de inflamar corações. E de que a música vinda de Shangaan tem a capacidade de impor luz num dia que se mostrava algo cinzento. E de que é uma das descobertas mais vitais vindas do Continente Africano. Tudo isso é verdade.

Numa espécie de showcase da fabulosa compilação Shangaan Electro : New Wave Dance Music From South Africa, o palco da Gulbenkian recebeu a presença de Nozinja e dos Tshetsha Boys. O primeiro é o indiscutível pivot do Shangaan Electro. Criador e mentor do género que tem vindo a produzir os grandes “clássicos” do género e serviu de cicerone para o género que ele próprio criou (”I´m the producer”). Os segundos são um grupo de dança bem humorado constituído por dois boys e duas girls (um delas com um daqueles sorrisos maiores do que o Mundo) que parecem contrariar as leis da motricidade humana e iam dando voz aos beats frenéticos debitados por Nozinja.

Não sendo se tratando de um concerto per se, a actuação (que começou com o coro de vozes da entoar uma reza em modo mantra) desta pandilha serviu os propósitos de apresentar de modo mais do que digno as fundações do Shangaan Electro. Ora através das explicações de Nozinja, ora através de um desfile de danças convulsas em sentido ascendente de velocidade (das 130 às 185 bpm´s). Com Nozinja a realçar este pormenor enquanto peça fulcral não só para identidade do género mas também enquanto elemento diferenciador entre esta e a dança entendida nos moldes ocidentais. Diferenças que se esbatem naturalmente. Existe algo de universal naqueles shou outs indecifráveis que leva esta música muito para além da categorização empírica. A vibração trespassou, e não fosse o ar carregado e muito mais gente se teria levantado e começado a dançar.

Dança essa que teve um momento bem carinhoso quando Nozinja chamou as crianças que se encontravam por ali a subir ao palco e acompanhar os Tshetsha Boys, com um dos míudos a destacar-se na ginga. Seguiram-se-lhes as mães (e uma avó que partiu tudo) e os pais destas mesmas, enfatizando a transversalidade desta celebração e o ambiente bem disposto que era notório em todos os sorrisos. E foi assim que ao som de malhas tão eufóricas como “Ngozi” ou “Naw Pfundla” (com uma melodia verdadeiramente infecciosa) se fez a festa na Gulbenkian. No final, as caras dos presentes deixaram de transparecer as olheiras de uma noite de excessos. A felicidade reinou, por momentos, por ali. Lágrimas de alegria, meus queridos.

Nota : Devido a problemas com o visto não foi possível contar com a presença do DJ Spoko.

Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
12/07/2011