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Philip Glass
Casa da Música, Porto
25/05/2011


A vantagem de fruir de música escrita originalmente para dança, teatro, cinema e linguagens paralelas apresentada isoladamente é o espaço vazio que aí se cria, pronto a ser preenchido com toda a imaginação que existe neste mundo. O concerto de Philip Glass na Casa da Música, no ano em que a programação é dedicada aos Estados Unidos da América, não foi excepção. Sozinho, ao piano, o compositor apresentou algumas das obras mais enigmáticas para o instrumento e deu espaço de sobra para que a viagem pudesse acontecer em toda a sua plenitude.
© João Messias/Casa da Música

Sala cheia, silenciosa e rendida durante cerca de hora e meia apanhada entre as estruturas repetitivas e rasgos de som que apelam aos sentidos mais primários. As duas primeiras obras apresentaram mais atributos que qualquer uma das três que se seguiram: os estudos nº 1, 2, 3, 6, 9 e 10 de uma obra de concerto formada por 16 estudos (terminada em 1999), contrastantes mas sempre belíssimos, deixaram o apetite em aberto para ouvir os dez estudos em falta; mas foi com “Mad Rush” que Philip Glass encheu a sala.

Já perto do final, outro grande momento, quando Philip Glass apresentou “Wichita Vortex Sutra”, momento em que se ouviu nas colunas uma gravação com a voz de Allen Ginsberg a recitar o poema com o mesmo título (uma reflexão anti-guerra dos anos 60), musicado ao vivo pelas mãos e pelo piano de Philip Glass num casamento perfeito entre palavra e som. Já nem encore era preciso para confirmar um grande concerto mas até isso houve. Só mesmo para prolongar o que já se sabia: que a viagem pelo piano de Philip Glass foi altamente recompensadora.

André Gomes
andregomes@bodyspace.net
31/05/2011