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Abe Vigoda / The Glockenwise
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
05/05/2011


Começámos esta noite a odiar os Glockenwise. Porque os Glockenwise tiveram o descaramento de aparecer na televisão e nem sequer mencionaram o seu clube de fãs. Traidores, cuspiram no prato em que comem, não tocam nada, o álbum é uma trampa e são todos feios. Depois começam os acordes iniciais de "Bardamu Girls" e nós perdoamos-lhes imediatamente. Rock n´roll a sério, para dançar, saltar, abanar a cabeça, abanar os braços, as pernas. Refrões para trautear: "Stay Irresponsible", "Scumbag" (claro...), "Love". Os Glockenwise não deixam o rock morrer, nem quando uma das guitarras falha e são obrigados a pedir uma aos Abe Vigoda. Quem parece morta é a audiência. Lisboa, vamos esclarecer uma coisa: se chegamos à terceira canção e vocês não estão a abanar sequer UMA parte do vosso corpo (o mínimo indispensável), desistam da música. Isto claramente não é para vocês. Dediquem-se ao tricô ou ao caralho que vos foda.

Por falar nos Abe Vigoda, eles escolheram a Galeria Zé dos Bois como palco do seu segundo concerto em Portugal - um local onde se sentiram como cachorrinhos numa loja de animais à espera de serem recolhidos (palavras dos próprios). O mote era a apresentação de Crush, o mais recente disco dos Californianos, que os coloca na rota da pop mais dançável e quebra quase por completo a sua ligação com o punk e o rock mais jovial de Skeleton, um disco que todos já deveriam ter ouvido. E se não o fizeram: façam-no. Já, agora, neste instante.

Mas continuando; embora os momentos iniciais, com a drum machine a marcar o ritmo e os quatro a incitarem à dança dos presentes (como se não soubessem em que cidade estavam), tenham mostrado os Abe Vigoda enquanto banda synthpop decente, é quando abandonam os teclados e se dedicam às guitarras que mostram tudo o que de melhor conseguem: melodias escondidas no ruído, a atitude punk escondida nas camisas e nas guitarras suadas, os U2 escondidos numa faixa ali para o meio, se os U2 voltassem a ser fixes e metessem mais barulho (sim, escrevi voltassem. Porque já o foram. Haters gonna hate). Cerca de uma hora de um concerto bastante agradável, onde houve espaço para dedicar temas antigos a alguns dos presentes e fazer esquecer que a noite não correu lá muito bem para a malta do sul. É tempo agora de marcar viagem para Dublin, e não é para ir venerar Deus Kevin Shields.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
06/05/2011