Nunca vira tamanho ajuntamento à porta do nº 58 da Praça da Alegria, mas também não era para menos. O icónico cabaret - casa de artistas e palco de jogadas de xadrez internacional - vai fechar portas e organizou uma festa de despedida à altura. Auf Wiedersehen, Goodbye, mas em grande estilo, juntando os Irmãos Catita e vários convidados de luxo. O site do Maxime anunciava «uma festa que fique nos anais e também nos orais (e até nos nasais...) do entretenimento em Portugal! Uma festa tremenda, soberba, excessiva, inesquecível, um acontecimento bestial com implicações no próprio Produto Interno Bruto, e até no clima do planeta».
© Thiago Correia
Bem a propósito, o dj passa “The End”, dos Doors, pouco antes da banda de Manuel João Vieira (MJV) entrar em cena. Chiquito está vestido de branco, como um africano de luto. Iniciam o show com “Lourenço Marques” e logo MJV cede o protagonismo ao parceiro (que mostra como é “Ser Moderno”), retomando o centro do palco em “Em Paris Há Gajas Boas”, que termina em alta rotação ska.
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Após “Só Penso em Foder” – com o refrão gritado em uníssono pelo público – vão-se sucedendo os convidados especiais. Primeiro, o cantor italiano tetra-romântico Sandro Core. De laço e casaco pretos e rosa vermelha na lapela, vai acompanhando a banda virtual numa gama de canções (“Italiano Vero”, por exemplo) e emoções intemporais. Miss Suzie chega, num vestido escuro que realça os seus atributos e deixa uma tatuagem marota à mostra. Interpreta um tango que condiz com as suas luvas e “Parole Parole”. Phil Mendrix surge, inesperadamente, de guitarra em punho, para momentos de puro virtuosismo eléctrico. O seu cabelo tinge-se de grisalho, mas os anos não passam pela alma rocker, o que transparece nas expressões de prazer com que acaricia a sua mais-que-tudo com motivos flower power.
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Victor Gomes junta-se à família, de casaco de cabedal e luvas negras, como os Gatos em que pontificou décadas atrás. Não costuma falar muito, mas após “It’s Now Or Never” abre o coração. Em Paris, o Moulin Rouge e o Lido não fecham, mas em Lisboa (após ter sucedido o mesmo com o Ritz) fecha o Maxime?! Pode ser que um milagre evite que a Praça da Alegria fique triste e Lisboa com uma lágrima no olho. Já não há artistas assim, que dediquem músicas às senhoras, as flores do seu jardim. Baixam as luzes e entra em cena o “corpo em movimento” de Gretty Star. Sob um branco virginal esconde um animal sensual. Começa por pegar no micro e “cantar” em espanhol. Só depois se vai desnudando, peça a peça, ao som de “Unchained Melody”, para gáudio da plateia.
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Durante o intervalo continuam a entrar pessoas: clientes habituais e quem veio porque era a última oportunidade; velhos e novos; compagnons de route de MJV e talentos musicais emergentes; políticos e editores. E na segunda parte segue a rusga, com os Irmãos Catitas & special guests. É de toda a justiça que estes artistas mais ou menos caídos no esquecimento voltem às luzes da ribalta. São 4:20 da manhã quando soam os compassos africanos de “Kanimambo”. «Kanimambo, pessoal; Kanimambo, Maxime. Era muita bom, mas acabou – Foda-se!!», desabafa Chiquito. Já MJV partilha que começa a ficar um bocado bêbado e só se vai embora quando lhe levarem um whiskey,,, e tem de ser Cardhu. Apesar de alguns músicos revelarem sinais de cansaço - a bateria começa mesmo a ser desmontada -, pega no bandolim e continua a tocar, acompanhado por parte da banda e, depois, sozinho. Não é inédito? Não. Mas acredito que desta vez lhe custou especialmente abandonar o palco duma casa que lhe é tão familiar. Acaba a cantar “a capella”, interrompido apenas por Tony Barracuda, que se rebela contra os Jesuítas antes de avançar para o microfone, sendo apenas retirado do palco pelo segurança. Todos queriam adiar este momento, mas ele chegou, infelizmente. O Maxime morreu? Viva o Maxime!!