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Real Estate
Via Latina, Coimbra
17/02/2010


Ninguém no seu perfeito juízo se apresta a utilizar a definição de college rock a um projecto cujas as virtudes se pretendem salientar. Minada por um rock pacóvio de tendências forçosamente sofridas ou mascarada em power pop de euforia infantil, bem distante da pré-maturidade dos Feelies ou R.E.M. Tudo aquilo que se passou na passada quarta-feira no espaço da Via Latina em Coimbra foi o capsular para a modernidade desse mesmo espírito num corpo feito de reverb e psicadelismo light. Real Estate é, como se poderia supor pela estreia homónima, bom college rock.

A coesão evidenciada pelos quatro músicos, numa descontracção apenas exequível pelo conhecimento mútuo de longa data, foi disso reveladora. Foi o espelho físico daquilo que as canções dos Real Estate projectavam mentalmente. A empatia entre os rendilhados de guitarra de Matt Mondanile e Martin Courtney, de encontro ao baixo líquido de Alex Bleeker e à bateria algo musculada de Etienne Duguay revestiu-se de uma naturalidade premente, sem nunca resvalar para a displicência.

Encadeando temas de Real Estate com alguns temas novos, de forma escorreita e sem grandes desvios a uma fórmula ganhadora nessa mesma evocação despretensiosa, acabou por ser um certo apelo mais físico que retirou algum mérito ao quarteto de Nova Jersey. Não que tenha sabotado as intenções “fixes” da banda, e já se sabe que o palco leva frequentemente a um pendor mais vigoroso, mas casos como uma curta faixa nova não ganharam sobremaneira de uma bateria mais incessante. De resto, houve uma transposição perfeita de canções tão eficazes quanto “Fake Blues”, “Beach Comber” ou a lindíssima “Pool Swimmers” a finalizar em toada aquática um concerto quase irrepreensível (mesmo que o som da sala nem sempre ajude). Tratando-se da cidade dos estudantes, tudo parece fazer ainda mais sentido.

Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
19/02/2010