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The Field
Plano B, Porto
15/01/2010


O concerto de The Field, é certo, pedia uma hora adiantada, um momento em que alguns descrentes estivessem já a dormir, um horário pouco santo. Mas não tanto. Já passava das quatro da manhã quando Axel Willner e a sua banda (o que era preciso, baixo e bateria) subiram ao palco do Plano B para encher a sala de techno minimal para jovens dançantes, o que fez com que alguns crentes perdessem a fé antes do tempo. O que todos queriam saber ali era até que ponto é que From Here We Go Sublime e Yesterday and Today (2009), nas suas diferenças (o primeiro é bastante inferior ao segundo), conseguiriam viver em território live. Uma coisa já era certa: The Field é uma das propostas mais aliciantes (senão a mais) da Kompakt nos dias que correm.

Axel Willner não tardou a dar respostas. As máquinas abriram o jogo e a qualidade orgânica do baixo e da bateria seguiram-lhes o rasto. E apesar de a bateria ter falhado uma boa parte das entradas ou mudanças de velocidade dos temas com assinatura The Field (partes fundamentais das construções do sueco), quando o trio entrava na velocidade máxima já não havia como parar o hipnotismo das batidas duras e minimais, a força das vozes e laivos de melodia que guiam as criações de Axel Willner, a tremenda força que esta música algo diabólica exerce sobre os corpos. Era o momento mais esperado e valeu cada minuto de espera: “Over the Ice” abanou as estruturas do Plano B como em poucas outras ocasiões.

O baixo e a bateria tornaram as construções de Axel Willner mais densas, deram-lhe um corpo e uma transcendência superiores – foram essenciais na criação de espaços. Foram carne para canhão numa guerra de sexo e entre aquilo que é orgânico e maquinal. Axel Willner tem essa exímia capacidade de eliminar (e jogar com) as barreiras criadas entre o Homem e as máquinas; no Plano B, apesar de alguns percalços (aquela bateria andou demasiadas vezes perdida), provou que faz discos para os apresentar ao vivo enquanto resultado final. Ali, em cima do palco, com uma sala cheia de gente, as criações de The Field fizeram todo o sentido. Podia ter sido muito melhor; mas mesmo assim foi muito bom.

André Gomes
andregomes@bodyspace.net
18/01/2010