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Jackie-O Motherfucker / Dragging An Ox Through Water
Via Club, Coimbra
01/07/2009


Nome maior das expressões livres e alvo primário de alguma exposição mediática (capa na Wire, por exemplo) aquando do despontar dessa terra sem coordenadas a que se convencionou chamar de New Weird América, o projecto liderado por Tom Greenwood tem vindo a perder gradualmente a sua relevância de outrora. Sintomático e até mesmo habitual numa realidade efémera, não deixa de ser, ainda assim louvável a coragem dos organizadores para trazerem à cidade de Coimbra uma banda longe do seu estado de graça, e acima de tudo, tão fora dos cânones roqueiros que regem a cidade.

Acompanhados pelo projecto solitário de Brian Mumford, de nome Dragging na Ox Through Water, coube a este mesmo abrir a noite no espaço (algo desadequado) do Via Club. Incidindo numa toada folk, que o nome já faria prever (poderia até ser uma malha de Thuja), foi deambulando por entre semi-canções fantasmagóricas, dolentes numa fragilidade que se escapava por vielas ruidosas. Composições fragmentadas, que por vezes se abatiam sobre o seu próprio peso, num concerto intimista, mas também ele fragmentado. No ar fica a ideia de que num espaço mais dado a silêncios a opinião poderia ser diferente.

Apresentando-se como um quarteto (onde se incluía Brian Mumford), os Jackie-O Motherfucker, mostraram-se em consonância com a orientação folk-rock mais estruturada dos seus últimos trabalhos, distante do espírito libertário de obras tão marcantes como Fig. 5 ou Liberation. Embora não tenha sido, de todo um concerto chapa-quatro, aquele ligeiro travo a post-rock em voos rasantes foi várias vezes tomando conta da actuação, com a banda incapaz de cortar as amarras que os prenderam em territórios lamacentos. Epitomizado pela voz dormente de Tom Greenwood, o que restou foram working songs sem alma. Eficazes, e a espaços plenas de interesse, mas sempre conformadas consigo próprias. Incapazes de arrancar aquele grito redentor, que é (em última análise) sustento de uma música tão caracteristicamente litúrgica.

Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
06/07/2009