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Gang Gang Dance
Café Concerto Casa das Artes, Famalicão
13/05/2005


Fotografias de Ana Sofia Marques

Brooklyn tem de ser um dos locais mais apetecíveis do momento. Os motivos são muitos e entusiasmantes: Animal Collective, os Excepter, os Oneida, os Black Dice, os Mouthus, a Fusetron. A juntar a toda a enorme lista de maravilhas musicais há ainda os Gang Gang Dance, a banda que com o lançamento de God’s Money (em Abril deste ano, pela Social Registry) chamou a atenção dos desprevenidos, daqueles que não estavam ainda satisfeitos com Revival of the Shittest e, provavelmente, de muitos que simplesmente não estavam satisfeitos com nada. Dos registos anteriores para este God’s Money, as coisas tornaram-se mais orelhudas, mais estruturadas, mais pop. O nome (Gang Gang Dance) ainda engana um pouco mas a imagem que surge na capa de God’s Money faz total justiça ao que se pode ouvir no disco: na música dos quatro membros do Gang há espíritos, mundos ocultos e, quem sabe, monstros.

São então quatro os Gang Gang Dance. Uma guitarra, alguns teclados, uma bateria e a voz de enfant terrible, assombrada e enfeitiçada de Liz Bougatsos. E porque parece ser já tradição os artistas perderem-se a caminho de Famalicão, o soundcheck ficou mesmo para os instantes que antecederam o concerto, com o público já nos seus lugares. Talvez tenha sido por isso que o concerto começou de forma algo caótica, com rasgos de feedback que incomodaram tanto o público como os membros da banda. Mas as condições acabaram por melhorar pouco depois para o bem de todos.

Liz Bougatsos, toda vestida de negro, continuava a liderar lá à frente com o seu tom de voz invulgar, com gritos estridentes e com a manipulação de vozes através de um pedal de efeitos de guitarra colado no tripé do microfone. A percussão é partida em mil cacos, sem brilharetes. E depois de partida, é reconstruída pelo som do caos. E voltar a partir-se, e volta a reconstruir-se. A guitarra divide-se entre riffs, regra geral, estridentes (e os riffs em escalada, e os riffs em escalada...), pequenos pormenores e construtores da desordem. Os teclados (muitos, sempre) são manhosos, duvidosos, matreiros, finórios, sonsos, sabidos – e se assim não fossem, não teriam metade da piada. A cobrir tudo isto, a electrónica e, mais importante do que tudo, a escuridão, as trevas. Toda esta descrição tem na pau-de-dois-gumes “A: Glory In Itself B: Egyptian” (simultaneamente um dos melhores temas de God’s Money e um dos melhores momentos do concerto) um perfeito exemplar, mas não é caso único: mesmo outros temas de God’s Money (e alguns apresentados no concerto) seguem a mesma linha. E ainda bem.

Outras peripécias/curiosidades incluem o cair (ao chão) de uma guitarra e o remover dos sapatos por parte de Liz Bougatsos. Chegaram de Lisboa (do festival Where’s The Love na Galeria Zé dos Bois), marcaram presença em Famalicão e partiram (para Vigo) deixando a sensação - partilhada por muitos - que se tecnicamente as coisas tivessem corrido melhor (a própria banda parecia algo atordoada no final), a actuação dos Gang Gang Dance poderia ter sido mais do que uma boa actuação. Mas não é por isso que God’s Money perde o seu lugar como um dos melhores discos de 2005 até à data.

André Gomes
andregomes@bodyspace.net
13/05/2005