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Jackie-O Motherfucker
Teatro Passos Manuel, Porto
12/05/2005


De há quase dez anos para cá, os Jackie-O Motherfucker têm vindo a afirmar-se cada vez mais como uma das maiores bandas da cena independente norte-americana, partilhando terrenos musicais com nomes como os enormes Sunburned Hand Of The Man, os Charalambides ou os No-Neck Blues Band. Tudo isto fará ainda mais sentido se tivermos em conta discos como Fig. 5, Liberation ou Change e a quantidade de géneros musicais que abarcam na sua abordagem à música. Chamem-lhes weirdos, chamem-lhe experimentais, chamem-lhes o que quiserem. São conhecidos, no que diz respeito à formação, por serem uma espécie de célula em constante movimento que gira em redor de Tom Greenwood, que desta vez, na estreia em palcos portugueses, fez-se acompanhar pelos irmãos Maurizio e Roberto Opalio, dos My Cat is an Alien, e de Ramona Ponzini.

Com efeito, numa ponta, Tom Greenwood (de camisola de Neil Young vestida) tomava conta de uns gira-discos e da electrónica; na outra ponta, Ramona Ponzini surgia como líder daquilo que parecia ser uma tenda Natura Selection (espanta-espíritos, instrumentos de sopro e tudo o que de musical se possa encontrar na mais natural das lojas); no centro, Maurizio e Roberto Opalio (ambos com camisolas dos My Cat is an Alien) surgiam divididos por uma bateria (que servia para os dois) e contavam ainda com duas guitarras deitadas em cima de duas mesas onde se encontravam igualmente alguns pedais e brinquedos musicáveis que haviam de manejar durante o concerto.

Se é verdade que os Jackie-O Motherfucker planeiam editar um novo disco pela All Tomorrow's Parties Recordings nos próximos meses, também não é menos verdade que esta (por enquanto) curta digressão que inclui datas em países como Espanha e Portugal parece traçar as novas coordenadas para o trabalho de Tom Greenwood e seus companheiros. Misturando o passado com o presente, os Jackie-O Motherfucker movimentaram-se pela folk, pelos spirituals, pela música electrónica e, como é apanágio dos seus discos, fizeram-no sem parecerem prestes a embarcar em salgalhadas pouco inspiradas ou inconsequentes. Deram ênfase à percussão (por vezes quase tribal) e a ruidosas erupções que tornavam suspensa uma espécie de intransponível massa de som, que tão depressa era ruidosa como, no momento seguinte, planante.

De quando em vez, do turbilhão experimental vinham ao de cima pequenos recortes de blues (postos em marcha pela guitarra e voz de Tom Greenwood), as vocalizações algo bizarras de Ramona Ponzini e alguns discos postos em marcha por Tom Greenwood (um deles repetia incessantemente a palavra “dream”), entre outros pontos de interesse – incluindo um tema final já em jeito de encore. É verdade que nem tudo foi um mar de rosas, mas pelo menos não houve ferimentos causados pelos espinhos.

André Gomes
andregomes@bodyspace.net
12/05/2005