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Chico César e Paulinho Moska
Casa das Artes, Famalicão
26/04/2008


Romeu & Julieta, Bonnie & Clyde, Morrissey & Johnny Marr, Michael Jackson & Quincy Jones, Lucho Gonzaléz e Lisandro López. Chico César e Paulinho Moska podem não ter tanto sucesso como algumas destas parelhas (e certamente não tiveram o destino trágico das duas primeiras), mas os dois músicos parecem ter sido feitos um para o outro. Em Famalicão, provaram que as suas vozes e forma de tocar se complementam, num espectáculo diversificado que revelou raízes e influências que vão para além da música brasileira e abrangem o blues ou o rock & roll. Também por isso, não mereciam o aspecto desolador que o auditório principal da Casa das Artes apresentou para os receber: apenas cerca de 100 espectadores, o que não chega para preencher um terço das cadeiras do anfiteatro.

Os dois músicos, que não escondem a “grande amizade e admiração mútua” que os une, são quase irrepreensíveis tecnicamente e protagonizaram belas harmonias de voz. Porém, não foram excessivamente ortodoxos nas abordagens às canções: mesmo estando sozinhos em palco e tendo apenas como recurso guitarras acústicas e eléctricas, aplicaram muitas vezes efeitos ousados aos instrumentos, evitando uma previsível monotonia sonora.

O repertório apresentado centrou-se fundamentalmente em canções dos dois músicos, mas também houve tempo para versões de temas de Martinho da Vila (“Brasil Mulato”), André Abujamra (“O Mundo”) e Zeca Baleiro (“Pedra de Responsa”). Mas o maior destaque vai inevitavelmente para alguns dos grandes temas de Chico César, o cantor e compositor que começou a carreira profissional no jornalismo. Temas como “Mulher eu sei” (“Eu sei como pisar no coração de uma mulher/ Já fui mulher eu sei), Tambor (“Agora que você voltou/ arranque minha pele, faça um tambor/ e por favor não vá nunca mais/ please don't go”) e “Mama África” (“A minha mãe/ É mãe solteira/ E tem de fazer mamadeira todo dia”) não enganam.

No final, uma surpresa. Os dois músicos apresentaram um inédito, a sua primeira composição conjunta: a irónica (e visivelmente embrionária) “Unhas”, com letra de Chico César, à qual Paulinho Moska adicionou a música, na noite anterior ao concerto.

João Pedro Barros
joaopedrobarros@bodyspace.net
26/04/2008