Logh / Christian Kjellvander / Katabatic
Santiago Alquimista, Lisboa
11/05/2007
Em termos de localização, a sala Santiago Alquimista não podia ser mais propícia a receber bandas cuja maior recompensa sucede, em termos musicais, a uma espera que acumule esforços separados a certa altura tornados conjuntos. O acesso à alta zona da Sé de Lisboa, faz-se a partir de uma íngreme subida que culmina no miradouro de Santa Luzia, que, nas noites de maior movimento, conhece um infernal aparato de viaturas que procuram lugar vago para estacionamento, muitas vezes arriscando manobras a quem nem um Steve McQueen se atreveria. Para que todos cheguem salvos ao hall de entrada do Alquimista, coordenam-se esforços entre amigos – uns despertam o sinaleiro interior com ajudas na manobra, alguns fazem os possíveis com um volante nas mãos, outros medeiam a coisa com incentivos morais. A coordenação de esforços faz todo sentido quando em peregrinação para assistir a um concerto onde equivalente combinação sincronizada garante os mais marcantes momentos.
Eram presença de vulto na noite de sexta-feira os Logh, colectivo sueco que, com o mais recente North procurou uma saudável demarcação face ao pós-rock, relegado em prol de uma mais sonante vertente pop de cristal. Em concerto, porém, volta mais dominante o pós-rock que, em regra geral, se manifesta através da tal coordenação e aliança sincronizada de garantias criativas que possa uma banda conjugar com vista à obtenção de um pico climático – esses que, nas raras ocasiões em que cortam a respiração, ficam gravados na memória. Nesse sufoco que se deseja para ocasiões como esta, dir-se-ia sobre os Logh que acariciam com uma mão de seis dedos a garganta em vez de sufocá-la. Comparando esta com a anterior prestação do grupo na sala, cedo se repara no papel de maior relevo reservado aos teclados – que agora rivalizam com as guitarras –, na polivalência instrumental de um sexto membro que foi promovido de roadie a integrante em palco e, por último, na crescente fragilidade de Mattias Friberg, cuja aparência dionisíaca arrebata corações entre as meninas.
Mas nem só a esse se limitam os efeitos que provoca Mattias Friberg – o rapaz torna-se mais aguerrido na imediatamente reconhecível “The Contractor and the Assassin”, comprova que melhor resultam com a electricidade do registo ao vivo “Saturday Nightmares” e a prolongada “Thieves in the Palace”, não consegue evitar a insipidez da imperdoável lamechice “Death to My Hometown” e, já em encore, acompanha telepaticamente a restante banda na desaceleração conferida a “The Bones of Generations” (adultera a partir da versão que integra o ponto alto The Raging Sun). Enfim, o sonambulismo pop de North não soa tão mal quanto isso dissimulado entre o restante alinhamento, mas os Logh que pisam o Alquimista, passados dois anos sobre a sua última passagem sobre a sala, não acrescentam muito ao que já havia sido provado.
Quem também não terá provado dispor de argumentos que os levassem a transcender pouco mais que o mínimo esperado ao pós-rock pós-milenar, foram uns Katabatic, em representação do bronze da casa, que podem vir a apresentar garantias mais sofisticadas quando os detalhes de electrónicas e guitarras ao alto conhecerem mais sólido entrosamento. Em etapa intercalar, o alt-country escandinavo fez-se sentir pela voz e guitarra de Christian Kjellvander que, em certas alturas mais marcantes, quase soa a um Old Jerusalem mais americanizado e sem o mesmo talento para o delinear maravilhoso de núcleos de canções. Trouxe uma acompanhante que o acompanhou nas vocalizações e tocou serrote com um arco de violino. Arrecadou alguma simpatia patriótica ao tocar uma evasiva “Portugal” sobre sarilhos em que andava metido e sobre aqueles em que se haveria de meter.