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Patrick Wolf
Lux, Lisboa
18/04/2007


Existem aqueles líderes de uma banda para quem o palco é uma mera passerelle. Um local onde dão asas à sua “flamboyance”, e onde a consciência de estarem a ser observados por várias pessoas toma precedência sobre tudo o mais. Patrick Wolf tem um pouco dessa pose de estrela consciente, mas não disfarça igualmente o prazer de nos ver pelo simples motivo de poder chegar ali e apresentar o seu espectáculo, e as suas canções. Diante de um Lux bem composto, embora longe do aperto causado pelas Cansei De Ser Sexy, foi precisamente isso que fez.

Patrick surge munido de um violino, e acompanhado por outra violinista, um contrabaixista, um baterista, e um homem das electrónicas que dispara os ruídos que desde sempre fizeram parte e ajudaram a criar o efeito de grandiloquência na sua música. O concerto inicia-se com Patrick ao piano, passando para o microfone principal e para o seu violino apenas na segunda música. As músicas soam ampliadas nas suas emoções em relação aos discos. Com o volume bem alto, elas surgem como vindas de um local onde não são permitidos gestos de modéstia, antes preferindo envolver a assistência no seu lado dramático e de puro espectáculo. Há uma partilha enorme entre palco e público. Patrick Wolf oferece o vasto campo das suas composições, o público aplaude e incentiva-lhe que prossiga a sua caminhada.

Durante o curto – mal atingiu uma hora – espectáculo, Patrick exibiu uma destreza em palco que o coloca num ponto cardeal para onde convergem Martin Fry (ABC), Brett Anderson, Morrissey e David Bowie. Bastante expressivo quando abordava o microfone sem o violino, trepando para o topo do piano e tocando as teclas com os pés sem sapatos, ou simplesmente agitando o corpo e os braços, vivendo cada palavra na sua música. “Accident & Emergency” foi recebida com vastos aplausos, e interpretada a todo o vapor, parecendo capaz de perfurar as paredes do Lux. “The Magic Position” que encerrou a primeira parte não lhe ficou atrás, ajudada pelo bom humor de Patrick, que a apresentou como incentivo para a plateia a usar como revigorante sexual pós-concerto.

Dois encores foram a última prenda nesta noite de comunhão. O primeiro trouxe a surpresa de ver um Patrick Wolf em estado de quase levitação, a tocar “Feels Like I’m In Love”, de Kelly Marie, um velho êxito “teenybop” britânico. O segundo foi mais sóbrio, com uma excelente interpretação da mais recente “Magpie”. No fim, o esgotamento não parecia impeditivo para que a festa continuasse, mas a decisão aqui cabe ao artista. Patrick Wolf despediu-se em definitivo por esta noite. Ele sabe que foi visto, ele sabe que viu, todos sabemos que ouvimos e vimos, e isso deve bastar para que um sorriso retorne.

Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
18/04/2007