bodyspace.net


Mísia
Centro Cultural de Belém, Lisboa
23/03/2007


A obra do compositor Kurt Weill (1900-1950) - onde se destaca a Ópera dos Três Vinténs, uma das várias colaborações com Bertolt Brecht - tem o privilégio de se inscrever simultaneamente entre os universos da música clássica e da música popular. Para um programa intitulado “Mísia canta Kurt Weill” esperava-se uma abordagem ao repertório pop, com passagem pelas inevitáveis “Speak Low”, “Alabama Song” (“aquela” dos Doors), “September Song” ou pela famosíssima “Die Moritat von Mackie Messer” (mais conhecida como Mack The Knife). Afinal coube à fadista interpretar apenas uma obra específica, Os Sete Pecados Mortais, tendo o resto do programa sido preenchido com obras de outros dois autores alemães - Boris Blacher (1903-1975) e Johannes Brahms (1833-1897).

Para esta co-produção do C.C.B. com o São Carlos (uma bem calculada joint-venture entre duas das mais relevantes instituições culturais de Lisboa) juntaram-se em palco a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Sob a liderança do maestro austríaco Leopold Hager, a Orquestra Sinfónica abriu o programa ao interpretar a peça Variations on a Theme of Paganini (1947) de Blacher, que substituiu a originalmente programada Kleine Sinfonie de Hanns Eisler. De seguida a musa do alt.fado entrou em palco para interpretar a peça de Weill.

Acompanhada pelo quarteto coral do São Carlos, Mísia fez uma interpretação competente de Die sieben Todsünden (Os Sete Pecados Mortais), “ballet chanté” com textos de Brecht, estreado em Paris em 1933. A fadista executou a peça sem falhas mas, devido à complexidade do texto, acabou por não deslumbrar particularmente. Não foi possível assistir à alma, garra e sentimento que lhe conhecemos dos discos, mas imaginamos que a integração da voz de Mísia num outro projecto, talvez dedicado aos standards de Kurt Weill, poderia funcionar muito bem e surpreender.

A segunda metade da noite foi inteiramente dedicada à Sinfonia n.º 2 (1877) de Brahms. A interpretação vigorosa da peça por uma Orquestra Sinfónica bem atinada, às ordens de um regente expressivo, arrancou uma grandiosa salva de palmas, deixando o público completamente conquistado.

Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
23/03/2007