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Cibelle
Santiago Alquimista, Lisboa
22/02/2007


Não é difícil ser-se conquistado pelo encanto de Cibelle. A brasileira residente em Londres encontrou-se com um Santiago Alquimista muito bem composto e não demorou a deixar o público rendido. Se bem que nos seus discos há uma forte componente electrónica (havia curiosidade em ver como seria a transição para o registo ao vivo), percebe-se cedo que mais do que arranjos, decorações ou enfeites, o cerne da sua música está nas próprias canções. São canções delicadas, melodias sedutoras que cruzam o classicismo da mais refinada MPB (de Chico Buarque a Marisa Monte) com a frescura da nova bossa do século XXI (é impossível não pensar em Bebel Gilberto).

O mais recente “The Shine of Dried Electric Leaves”, disco editado no ano passado, foi o mote do espectáculo que passou ainda por outras paragens. A acompanhar a cantora estava um trio que para além da instrumentação pop habitual (guitarra, baixo, bateria) trabalhou com maquinaria electrónica variada (laptop, samplers, efeitos, etc). A utilização precisa do manancial electrónico fez mesmo com que as interpretações se aproximassem muito do registo gravados, ultrapassando por vezes a intensidade dos álbuns (tendo mesmo alguns temas culminado com belos feedbacks ruidosos!).

Mas, dizíamos, mais do que os enfeites electrónicos, há canções. No Alquimista houve belas canções como “Minha Neguinha”, exemplo maior de arranjo despido, concentrado na essência. A passagem pela “London, London” de Caetano era inevitável e mesmo sem Devendra foi uma interpretação impecável – presume-se que a ausência do freak barbudo nem foi notada. Caetano foi novamente invocado com a arrastada versão de “Cajuína”. E arrastada foi também a versão de “Por Toda a Minha Vida” - se a intensidade de Elis Regina é inultrapassável, a densidade desta interpretação tem de ser enaltecida.

A festa não podia faltar e chegou com “Noite de Carnaval”, momento mais dançável da noite. A cantora estava feliz por poder falar português e o público estava feliz com as músicas. Alternando entre o contemporâneo ou arcaico, utilizando samplers ou sininhos, Cibelle transformou uma noite de Inverno numa festa primaveril. Mesmo com as chaves do público a fazer “chuvinha”, ninguém terá apanhado mau tempo. Estamos certos que até mesmo o grupo de palermas que desrespeitosamente não se calou durante todo o concerto terá percebido isso.

Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
22/02/2007