Keiji Haino
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
25/11/2006
Não nos podemos queixar da avalanche de concertos que nos últimos tempos tem havido por aqui. Só este ano já tivemos oportunidade de ver ao vivo três das maiores figuras da improvisação japonesa da actualidade. Primeiro foi Otomo Yoshihide (a solo na Trem Azul e integrado na Orkestrova no Jazz Em Agosto) e depois veio Tetuzi Akiyama (que deu concertos em Porto, Aveiro e Lisboa). E agora foi a vez de Keiji Haino, o histórico e influente improvisador, actuar no nosso país, por duas vezes: em Serralves (Porto) e na Zé dos Bois (Lisboa).
O “aquário” ZdB estava bem composto e o proprietário do penteado mais marcante da história da improvisação (já sabemos onde Fátima Lopes se inspirou) não dispensou os óculos escuros. Começando por estruturar uma base rítmica, o japonês foi acelerando até que introduziu uma camada de drones e sons manipulados em tempo real. Com uma performance que tanto tinha de impacto sonoro como de impacto visual – Haino mais parecia um feiticeiro a invocar espíritos - durante cerca de trinta minutos trabalhou uma sessão de noise extremo, desafinado os limites. Magnífico.
Depois, Keiji Haino dedicou-se à guitarra. Contrastando com a primeira parte do concerto, Haino desenvolveu durante cerca de outra meia hora sons em forma de quase melodia repetida, numa calmaria quase hipnótica. Meia hora depois, novo contraste: Haino transforma-se em demónio e, sozinho, faz uma aproximação ao metal, num cenário sonoro quase doom, usando também a voz em versão satânica. Haino vai mudando radicalmente de estilo com a facilidade de quem muda de camisa e num instante está numa onda quase pós-rock mogwaiano.
Ainda há espaço para alguma improvisação não-idiomática na guitarra (o espírito de Derek Bailey passou por ali), mas a toada da maior parte do concerto acaba por mais pesada, ainda que por vezes não tenha evitado alguma redundância. A duração excessiva do concerto acabou por dispersar a atenção e aquilo que poderia ter sido – concentrado - uma fabulosa hora de música, prolongou-se em demasia, levando os espectadores à fadiga auditiva. Ainda assim, pela abordagem extrema, foi uma excelente noite de música radical na Zé dos Bois.