bodyspace.net


Apse / Remate
Cafe La Palma, Madrid
15/11/2006


O Cafe La Palma é uma espécie de montra para as bandas da Acuarela. É rara a banda da editora não venha apresentar novo disco ou novos temas ao bar da famosa Calle La Palma. Os Apse são uma das bandas do catálogo da editora madrilena e têm novo disco (o segundo pela Acuarela) a sair dentro de dias, Spirit. São um quinteto de Nova Iorque (na verdade formado entre Boston e Nova Iorque) que se aventura pelo pós-punk e pelo pós-rock, misturando-o e encontrando aí a sua fórmula. Nessa mistura a percussão (alimentada pelo baterista e pelo vocalista/percussionista) e o baixo desempenham papéis fundamentais. Juntam-se depois as guitarras (normalmente duas, por vezes três) que se entrecruzam, que criam ambiências arrastadas, que levam os temas para outros lugares distantes.

A ideia na verdade é mais agradável do que a forma como as coisas resultam na prática. Com a excepção de um ou outro momento, o concerto dos norte-americanos mostrou-se desconexo e algo inconsequente. Chegou a roçar a previsibilidade, especialmente quando tentaram ser os Explosions in the Sky ou quando imitaram o pós-rock de explosões sónicas. E se num penúltimo tema chegaram a ser excitantes, terminaram com um longo e arrastado tema que destruiu por completo as hipóteses de levar para casa uma boa imagem dos Apse. Tendo em conta a teoria da proposta, resta esperar que este segundo disco consiga traduzir essas intenções de forma mais coerente e interessante.

Na primeira parte actuou Remate, o alter-ego de Fernando Martínez, madrileno que em tempos estudou no Welsh College Of Music and Drama – e talvez assim se explique o seu inglês sem nódoa. Desta vez Remate significou um concerto a solo, mas também poderia ter sido em duo, em trio, ou com full band. As canções de Remate, na guitarra acústica e por vezes com a presença de uma harmónica, lembram o passado em Bob Dylan e o presente em Mark Kozelek, Sparklehorse, (Smog), Will Oldham. O que mais se lhe nota é a tradição americana na forma de escrever canções e o devido respeito. Ao longo de mais de 30 minutos a mostrar canções com uma profundidade surpreendente e dotes óbvios na guitarra e na voz, a actuação de Remate havia de se relevar como a melhor da noite.

André Gomes
andregomes@bodyspace.net
15/11/2006