bodyspace.net


Healthcontrol / Valina
Siroco, Madrid
23/09/2006


Os Valina são de Linz, Áustria, uma “provincial metropolis”, como é referido no Myspace da banda. É lá que se diz igualmente que Linz tem vindo a procurar há anos o sucesso como uma cidade de cultura e que há uma crescente cena musical a desenvolver-se por lá: apontam nomes como os Attwenger (duo de Markus Binder e Hans-Peter Falkner) e os hip-hopers Texta, curiosamente projectos com início nos anos 90. Os Valina são bastante diferentes dos dois projectos acima mencionados. Fazem rock matemático (escola Don Caballero), por vezes experimental, pós-rock/hardcore. Fazem maioritariamente música física, musculada, confrontacional. Não é à toa que os valina escolheram a frase “less rock than you can handle” como apresentação no Myspace.

Têm mais de 10 anos, levam já dois discos (o último, Vagabond, produzido por Steve Albini) e um EP, preferem Minneapolis a Nova Iorque. Já tocaram pela Europa e pelos Estados Unidos, já pisaram o palco (muito) mais de 200 vezes e agora andam a correr a Europa de novo. Voltavam à Península Ibérica depois de 4 anos e faziam-no no Siroco. Ao vivo tudo se torna ainda mais físico, por razões óbvias. Composições de estruturas complexas, abertas por vezes a vozes (em inglês) e aproximando-se por vezes a construções similares às das canções, mas não demasiado.

Durante os momentos em que se viram confrontados com alguns problemas técnicos, a figura principal dos Valina (aquele que deu a voz para todos os efeitos) perguntava ao público se alguém conhecia bandas austríacas mas as respostas foram tímidas e reduzidas. Também se ouviram agradecimentos e outras considerações ao longo do concerto; e uma afirmação: o gosto por algumas atitudes estúpidas do rock ‘n’ roll. Apesar de alguns bons momentos (de agitação física, de confronto), os Valina não foram sempre interessantes como seria de esperar de alguém que conhece tão bem os Don Caballero. Ficaram apenas algumas (poucas) marcas do corpo.

Na primeira parte actuaram os madrilenos Healthcontrol, autores daquilo que os próprios apelidam de “impostrock”. A catalogação talvez se deva ao facto da banda madrilena fugir (vezes a mais) do pós-rock de explosões fáceis (encorpadas, por vezes com três guitarras em movimento) para canções (em castelhano, com vocalista a trocar constantemente) algo desnorteadas e pouco inspiradas por isso, logo, evitáveis. Ficam guardados na fita magnética da actuação alguns momentos apreciáveis de guitarras a la Explosions in the Sky (que ainda assim se notam mais em canções gravadas em estúdio do que propriamente ao vivo) e pouco mais. Faltará aos Healthcontrol, mais do que boa execução dos temas e relativamente bom entendimento (que já possuem), uma personalidade própria.

André Gomes
andregomes@bodyspace.net
23/09/2006