© Angela Costa |
Há muito que a Alemanha é um dos epicentros criativos mais activos da música electrónica. Apesar de ter contemplado a (r)evolução da cena rave na Inglaterra e o nascimento do french-touch, nunca deixou de ser um pólo criativo único, possuidor de uma linguagem própria – nomeadamente o trance – capaz de disputar os meandros da house com os mestres de Chicago ou reconfigurar as linguagens dos padrinhos do techno de Detroit. Talvez por uma questão de identidade nacional, os alemães nunca deixaram de evocar os Kraftwerk como os pais de uma linguagem electrónica de caris experimental, onde se liam nas entrelinhas os princípios básicos de uma revolução popular prestes a acontecer – e que deixaram muitos ouvidos de prevenção nos finais de 70.
Durante muito tempo a Alemanha foi palco de projectos mediáticos e medíocres que podiam ir de um house trampolineiro e colorido a um horrendo techno carrinho-de-choque. Exceptuando nomes de uma vaga trance emergente (no início dos anos 90) – Jam & Spoon, Alter Ego, Sven Vath, Hardfloor ou Resistance D – pouco mais se podia encontrar à superfície que pudesse convencer quem, com dificuldade, tentava aceder ao material mais underground, centro por excelência onde, ainda hoje, os movimentos nascem e se desenvolvem. E se depressa o trance se massificou à escala global, resvalando para uma epidemia duradoura e sem precedentes, a hora de desenvolver alternativas obrigou muitos académicos alemães a explorar as teorias do minimalismo que entretanto despontavam nos laboratórios da Minus de Richie Hawtin.
A relativamente discreta Basic Channel em Berlim tornou-se num ponto de atracção que foi cativando almas para um techno despojado. Um techno longe dos artifícios electrónicos que tanto caracterizaram as linguagens maximalistas, barulhentas e electrizantes das raves pós acid-house. Seguiram-se em Colónia a Kompakt, onde a tendência cada vez maior para o minimalismo dava a conhecer novos talentos como Wolfgang Voigt, Michael Mayer ou Superpitcher, e a Traum Schallplatten de Riley Reinhold; não ignorando, naturalmente, gente como Thomas Brinkmann ou Ricardo Villalobos, ambos produtores errantes que dividiam a sua vida entre Colónia e Frankfurt, onde também ficaram conhecidos pelos discos editados através da Perlon – relembre-se a série Superlongevity que muito contribuiu para a massificação e uniformização do minimalismo.
Mas a Alemanha não é só sinónimo de techno minimal. Um sem número de projectos editoriais desenvolveram sonoridades nos finais da última década que tanto podiam ir das electrónicas com inspiração jazz/ soul (Compost Records e Sonar Kollektiv) às atitudes rebeldes electro/punk com sabor a anos 80 (International DeeJay Gigolo Records) ou as electrónicas variadas e experimentais como no caso da Morr Music ou a irreverente BPitch Control de Ellen Allien – que desde o momento da afirmação no mercado, tem contrariado o techno esquelético de Colónia apresentado algumas alternativas viáveis para um cenário pós-minimal.
Como o mundo gira sem parar, não era de estranhar uma nova mudança de feitios e caracteres. No início do ano Pantha Du Prince não foi capaz, apesar de um disco muito interessante, de inverter alguma da lógica redundante que marcou o minimalismo nestes últimos anos. Os Digitalism por sua vez não convenceram com a dualidade Daft Punk vs electro-pop de 80 e ficaram-se por uma indefinição estética incapaz de criar uma identidade própria. Mas agora a situação é ligeiramente diferente.
Da Alemanha acabam de chegar três registos bem distintos que vêm provar que o techno minimal pode estar finalmente numa necessária recessão. Três discos que apresentam três ideias que engrossam a música electrónica e orientam as pistas para futuros caminhos: sejam eles uma ideia de regresso ao maximalismo (que encheu de vida as raves de início de 90), à exploração da plasticidade techno-pop em contextos abstractos ou as tentativas de invenção através da reinvenção dos métodos laboratoriais da composição IDM. Boys Noize, Supermayer e Modeselektor: três nomes e três ideias que confirmam um novo investimento sonoro numa nova direcção. O primeiro nome vem de Berlim e lança-se agora na aventura dos discos de longa duração, o segundo é um pseudo-super-grupo que nos traz dois senhores que estiveram envolvidos profundamente na cena minimal de Colónia e os terceiros, também de Berlim, procuram à segunda o reconhecimento negado à primeira. Novos ventos sopram, finalmente. Será para durar?
Boys Noize Oi Oi Oi |
Supermayer Save The World 2007 Kompakt/ Flur + info http://www.flur.pt http://www.kompakt-net.de |
Modeselektor Happy Birthday! 2007 - BPitch Control/ Flur + info http://www.flur.pt http://www.modeselektor.com http://www.bpitchcontrol.de |