© Angela Costa |
The Cinematic Orchestra Ma Fleur 2007 Ninja Tune + info
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Um dos exemplos paradigmáticos na elaboração de bandas sonoras imaginárias é a The Cinematic Orchestra que desde 1999 – na estreia que foi Motion – se dedicou à causa da escrita inteligente onde a electrónica camuflada interage com o jazz, criando ambientes atmosféricos, intrigantes e resistentes tal qual tivessme sido concebidos para um qualquer filme. Desde sempre que Jason Swinscoe e sua pandilha imaginaram imagens inexistentes e compuseram a sua banda sonora. E disso têm feito sua vida, dentro e fora do estúdio. Excepção feita ao único verdadeiro momento de escrita sonora para cinema: a sonorização do documentário russo de 1929 Man with a Movie Camera de Dziga Vertov (que inaugurou o Porto Capital da Cultura).
O novo Ma Fleur marca a viragem do colectivo para outros quadrantes. A folk e a pop passam a fazer parte do léxico. A eloquência jazzística mantem-se, a humilde ambição de escrita para um filme também. O piano ganha visibilidade num sector folk, tal como a guitarra acústica. Os ambientes melancólicos sentem-se na pele. E as vozes de Patrick Watson ou da repetente Fontella Bass asseguram que o arrepio é eficiente. Ma Fleur é um mimo intimista que muitos estranharão ao início, mas o tempo acabará por provar que a viragem talvez tenha sido a melhor opção num período menos feliz para o nu-jazz e cada vez mais favorável à nova folk. Excelente.
Matthew Herbert Score 2007 !K7 / Popstock + info |
Por seu lado, o proficiente Matthew Herbert, homem capaz das mais invulgares arquitecturas sonoras, nunca escondeu o seu interesse pela composição de bandas sonoras. Os convites para escrita para o grande ecrã não foram regulares, mas houve convites que Herbert não desperdiçou. Juntando agora num único disco todos os temas criados desde Nicotine em 1997 até aos recentemente rejeitados de Manolete, o produtor britânico tem procurado para cada filme um tom caracterizador, independentemente de ser uma curta ou longa-metragem.
Nem todos os dias são dias de génio e Herbert também nem sempre faz valer os seus argumentos. Score sofre de problemas de carácter. Sofre de dualidades psicológicas que retiram o brilho ao pensamento. A qualidade da escrita mantém-se, mas não cativa. Os momentos big band estão uns furos abaixo de Goodbye Swingtime. A faceta mais experimentalista de Dr. Rockit acomoda-se ao piano e deixa cair o paradigma dramático da imagem. E por fim o próprio Matthew Herbert ignora o estilo de produção - coerente na grande maioria - que o tem caracterizado a ele e ao equipamento de estúdio, avançando de olhos fechados em direcção de terrenos pantanosos que ainda não domina com certeza. Scale (2006) mostrava um produtor abrangente mas integro. Score mostra uma amálgama de personalidades que não revelam a mística necessária para concluirmos que o disco não passa de um colectânea irregular e com poucos motivos de verdadeiro interesse dramático.