As dez melhores canções de sempre neste preciso momento #2 - John Dieterich
· 31 Jan 2006 · 08:00 ·

Os norte-americanos endiabrados Deerhoof lançarem em 2005 The Runners Four. A já extensa discografia e, em particular, este novo álbum permitem antever um gosto musical alargado das quatro personalidades que formam a entidade hiper-criativa Deerhoof. Pedimos as melhores-canções-de-todo-o-sempre-neste-preciso-momento ao guitarrista John Dieterich (respeito: saiu do seu cérebro “Spirit ditties of no tone”, um dos momentos pop de 2005). Deu-nos 11 temas, de Morton Feldman aos Numbers.

1 "Patterns in a Chromatic Field" de Morton Feldman (do álbum Patterns in a Chromatic Field, ed. Tzadik): É como uma descida a um universo louco e alternativo ou como ouvir alguém através das ondas, sem manipulação ou tradução. Ou é, talvez, como ser comido vagarosa e adoravelmente durante uma hora por um rebanho de ovelhas. Perfeito de todas as formas!

2 "Indian War Whoop" de Hoyt "Floyd" Ming & His Pep-Steppers (da “Anthology of American Folk Music”, ed. Smithsonian Folkways): Esta é um daqueles pedaços de música que consegue soar completamente lógico e natural e ao mesmo tempo completamente incompreensível. Não há forma de conseguir compreender os ritmos e a melodia é tão bonita.

3 "Black Crow Heart of Gold" dos Numbers (de We're Animals, ed. Kill Rock Stars): Esta foi a primeira canção do conjunto de novos temas dos Numbers que acabaram por aparecer no álbum mais recente deles. Vi-os ao vivo em Oakland e não acreditava no que ouvia: música belíssimamente escrita, totalmente original e tão poderosa que me vêm lágrimas aos olhos.

4 "Strophe" de Toru Takemitsu (de In an Autumn Garden, reeditado pela Deutsche Grammophon): Escrito para um ensemble tradicional japonês. A primeira vez que ouvi esta peça, não parava de pensar que havia lá qualquer coisa com a qual me relacionava mais do que com qualquer outra - os microtons, as melodias assustadoras, a sensação de uma calma muito intensa e focada. Nunca me cansarei de ouvir esta música.

5 "Luminous Aluminum" dos 54-71 (de All Songs Composed & Performed by 54-71, ed. Some of Us): Este tema sintetiza tudo o que eu adoro nesta banda. A secção rítmica mais coesa que já conheci a tocar o funk mais meticulosamente construído e ridiculamente vazio. Uma banda incrível.

6 "Blues off" dos Starfuckers (de Infinitive Sessions, ed. Dbk Works): Quis falar disto a seguir aos 54-71 porque vejo-as como duas bandas gémeas separadas. Soa como um código qualquer a vir de outro planeta. É óbvio que há uma lógica, mas é como se só visses pedaços, o suficiente para impulsionar a música mas não para te dar uma noção do que realmente se passa. Esta banda acabou, para as mesmas pessoas começaram uma nova chamada Sinistri.

7 "Wonderful" de Brian Wilson (de Smile, ed. Nonesuch): A versão ao vivo desta canção que está em vários documentários sobre os Beach Boys e Brian Wilson tem de ser uma das melhores coisas que já experienciei. Melodias estranhas e de outro mundo, com letras que de alguma forma evitam os centros discursivos do meu cérebro e atingem directamente o meu sistema nervoso. Quando ouço esta canção, sinto que qualquer coisa é possível com notas e ritmos.

8 "On the Road" de Azita (de Enantodromia, ed. Drag City): Acho que Azita criou um mundo musical único e rico, com uma linguagem harmónica e melódica pessoal que, apesar de extraordinariamente única, também me soa natural e, bem, perfeita. O resultado de alguém que trabalhou imenso, ano após ano, para desenvolver as ferramentas para expressar as coisas maravilhosas que ela ouve na sua cabeça.

9 "Aberdeen Mississippi Blues" de Bukka White (de Parchman Farm Blues, ed. Roots): Há algo em Bukka White que me atinge sempre. Esta canção em particular tem uma melodia de desfazer corações (aparentemente ele gostava dela porque usa exactamente a mesma melodia em "Parchman Farm Blues"). A maneira como a voz dele quebra nos graves (parece canto à tirolesa) é incrível. Também sou um grande fã da forma como ele toca guitarra.

10 "I'll Never Lie Again" dos Lavendar Diamond (Live at 21 Grand, bootleg): Este concerto é uma das experiências musicais mais fortes que já tive. Logo no primeiro segundo, era óbvio que estava a acontecer algo de mágico. Um amigo meu disse-me depois que teve a sensação física do seu coração a desfazer-se. Assustador… Lançaram um EP, em edição de autor, chamado The Cavalry of Light”.

11 "Requiem for What's His Name" dos Shrek de Mark Ribot (de Yo! I Killed Your God, ed. Tzadik) A minha música mantra. Não sei porque é que reajo tanto a ela. Soa a música tradicional da “minha gente”, quem quer que ela seja. Vi há pouco tempo Ribot a tocar sozinho e foi inspirador, como sempre. Talvez seja o meu “guitar hero”.

Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com

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