Concertos e festivais: a loucura da música ao vivo
· 03 Ago 2002 · 08:00 ·
Música, bebida, droga, confusão, emoções ao rubro, excessos... negativo ou positivo? Não há resposta. Como é conhecido de todos, os excessos são marca registada daquilo a que chamamos “música ao vivo”, deveria ser “música viva”, uma vez que ela toma vida própria, apodera-se dos corpos e das mentes daqueles que a escutam, invadindo e conquistando, expulsando a consciência de uma realidade comum e pondo no seu lugar a anestesia de uma vida paralela, diferente, emotiva, frenética e impulsiva. Não importa o que se ouve, mas sim como se ouve. Não importa como se olha, mas sim o que se vê, porque nem todos vemos o mesmo.
Ainda me lembro da sensação que tive da primeira vez que fui a um concerto. Não importa se o grupo que actuava era bom ou não, não importa se hoje me continuo a identificar com essa música, apenas interessa o momento, e esse, foi marcante. A emoção que se sente ao ver as pessoas a reagir segundo ritmos impostos, a loucura de uma música que deixa de se manifestar apenas através de sons, mas também através de cores, luzes, pessoas, ilusões criadas naquele instante, vivências diferentes de um mesmo acontecimento, adrenalina que se sente a aumentar, o corpo que se movimenta impulsivamente, descontrolado, a entrega da mente, trata-se de uma série de momentos em que nos conseguimos abstrair do resto do mundo, do que se passa fora daquele recinto, nada mais interessa, apenas a sensação de liberdade conseguida através da música.
A diferença entre poder “ouvir” a música e poder “vê-la” é enorme. A euforia apodera-se de nós. Quem é que não sentiu aquela “ansiedade” antes de ir ao primeiro concerto? Ao assistirmos ao vivo à actuação de um grupo/banda/cantor sentimos a grandiosidade da música, os acordes vão invadindo o espaço, tomando conta dele. A intensidade com que ouvimos vai aumentando porque, ao contrário do que acontece quando estamos sossegados em casa a ouvir um cd, são os nossos sentidos que “ouvem” a música, deixamos apenas de a ouvir, passamos a cheirá-la, a saboreá-la, a tocar-lhe, a vê-la...
Outro aspecto importante é o contacto com as outras pessoas que, embora possam ser completamente diferentes de nós, têm pelo menos uma coisa em comum, aquele gosto, aquele momento. E, se isto se faz sentir num concerto, muito mais se sente nos festivais, onde o convívio ou contacto é muito maior. São experiências que se partilham (nem sempre boas é verdade!), sentimentos que se manifestam, emoções que nos acordam para o sonho... Se o saldo é positivo ou não, depende da experiência individual vivida por cada um. Mas como o que não mata, mesmo que seja uma experiência má, acaba por nos ensinar alguma coisa... vale sempre a pena. Libertem-se com a música!
Susana Enes

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