O preço da fama rápida
· 21 Jan 2004 · 08:00 ·
Devo confessar que muito me agradou a discussão em torno do meu último artigo, da mesma forma que se tornou um verdadeiro desafio escrever este, não por falta de imaginação, mas pela busca de anulação da já habitual tendência de antevisão a que parecem estar associados os meus textos. Mas convenhamos que é interessante estar em sintonia com aqueles que me lêem. Implica uma sempre saudável abertura ao diálogo. No entanto, não deixa de ser curioso verificar que, apesar de lerem “atentamente†o que vou escrevendo, alguns manifestem uma clara dificuldade de entendimento, o que os leva a produzir linhas de ideias fundamentadas em premissas “distorcidasâ€. É tudo uma questão de lógica contextual. Adiante!

Este artigo vai começar por abordar a temática do preço dos discos passando, depois, para outras não menos importantes. Não vou falar do IVA, mas sim do custo total do consumo de um álbum e os efeitos que isso pode acarretar a longo prazo. Tomemos o exemplo das lojas Valentim de Carvalho. Dentro em breve fecharão as portas e farão parte do passado. Uma situação irreversível tendo em conta os preços que, inexplicavelmente, praticam. Para mim é inconcebível lançar um álbum de estreia, de bandas como os X-Wife ou os Dealema, a 19.30 €. Mais ainda quando ambas fazem parte do catálogo da EMI – Valentim de Carvalho ou da Norte/Sul. O normal era serem vendidos, nas suas lojas, a preços inferiores aos praticados na concorrência. Porém, ocorre o oposto. Mas não ficamos por aqui. “Focusâ€, de Ennio Morricone & Dulce Pontes (Universal), e o álbum revelação de Maria Rita (Warner Music), são vendidos nas lojas Valentim de Carvalho pelo mesmo valor. Perante isto surge uma questão pertinente: qual a lógica de lançar, no mercado, um nome desconhecido e um conhecido com os álbuns a preços semelhantes? A resposta só poderia assentar na clara má política de gestão, além da ineficácia em compreender a máxima básica da lei do mercado, ou seja, das oscilações comerciais em torno da procura e da oferta. Partindo do princípio que o objectivo de uma editora é “vender†os seus produtos, não seria aconselhável colocar os novos a preços aliciantes nas prateleiras das lojas?

Continuando com a Valentim de Carvalho, tomemos de exemplo a loja do Shopping Cidade do Porto, que visitei recentemente. A mudança de instalações dentro do mesmo edifício poderia ser algo natural, não tivesse havido uma redução de espaço em cerca de 80%. Os motivos parecem-me evidentes, mas o que quero mesmo salientar é a exibição de “Folkloreâ€, da Nelly Furtado, álbum editado pela Dreamworks, na secção de música portuguesa. Será um erro da gerência local ou mal geral? Ou será que a Carla Bruni está na secção de música italiana e os Jamiroquai na de portuguesa? Como pode uma editora querer sobreviver se não sabe gerir o seu catálogo de artistas, colocar os seus discos a preços competitivos no mercado e ainda por cima com rótulos desadequados? Depois as vendas caem e fecham-se lojas atrás de lojas, como faz a Valentim de Carvalho, ou despedem-se funcionários, como é o caso da Universal e outras tantas. Não é por acaso que a Fnac está a ficar com o monopólio e as editoras independentes vão dando provas de eficácia.

Entretanto, não deixei de reparar que os álbuns de estreia do Filipe Gonçalves e da Joana, ambos da primeira edição da Operação Triunfo, se encontravam em saldo pela módica quantia de 9.99 €. Olhando para o fracasso que têm sido os discos dos talentos via OT, é caso para dizer que as pessoas que estão à frente dos destinos da música em Portugal devem perceber muito pouco de oportunidade e gestão de talentos. Para quem ache que não, pensem no efeito Chenoa, a vencedora da versão espanhola, a original.

Como a maioria dos programas televisivos, também as OT`s e os Ãdolos acabam por deixar de interessar ao espectador. Há sempre o efeito curiosidade e de entusiasmo colectivo, mas depois a repetição contínua da fórmula acaba por desgastar os programas. Têm os dias contados, tal como 90% dos concorrentes. A televisão é assim mesmo, só nos dá direito a 15 minutos de fama.
Jorge Baldaia

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