Não há duas sem três
· 16 Set 2003 · 08:00 ·
Depois de umas longas férias (merecidas, diga-se de passagem) estou a tentar desenferrujar as mãos e voltar a dedicar-me aos teclados tendo como grande fonte de inspiração a música. E se me posso queixar da lentidão dos dedos não faço o mesmo relativamente à matéria-prima. Mal me decido por voltar à actividade e sou logo confrontado com três boas notícias. Primeiro foi a medida da Universal Music de reduzir em quase 30% o preço dos discos (para já nos Estados Unidos da América); em segundo a reunião dos Pixies; e em terceiro a vitória da Lista B nas eleições para os corpos sociais da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA). Mas vamos por partes.

Que já há muito se falava da necessidade de redução do IVA nos discos não é novidade nenhuma. Que os consumidores reclamavam dos preços exagerados também não. Agora, a verdade é que poucos acreditavam que as editoras colocassem a possibilidade de tomarem medidas em prol do amante da música. E não tomaram mesmo nem nunca o farão. Tudo o que é feito tem sempre como pano de fundo o lucro. Neste caso são os prejuízos fruto do crescimento da pirataria. Esta é que é a realidade, pura e dura. No entanto todos nós acabamos (ou acabaremos caso seja implementada a mesma medida na Europa) por sair beneficiados. Ao menos isso.

Quanto à decisão da Universal apenas posso dizer que me parece acertada. As outras acabarão por fazer o mesmo. No entanto há já quem diga que vão ser os músicos e os profissionais da música a sofrer. Não acredito nisso. Todos sabemos que os músicos ganham a vida tocando ao vivo. Quanto aos técnicos e demais profissionais tudo se resume a uma questão de qualidade. E para a ter é preciso investir. Ou seja, tudo vai continuar a funcionar dentro dos mesmos moldes. A lógica é muito simples e tem por base a máxima do “baixam-se os preços aumentam as vendasâ€. Pura técnica de promoção à la grande superfície. Se a isto juntarmos o facto que quanto maior a quantidade menores os custos de reprodução dos discos, então o negócio vai facturar bem. Esta, claro, é uma visão optimista mas a que se deseja. No que respeita à pirataria essa nunca vai deixar de existir. Aliás, sempre existiu. Quantos de nós nunca gravaram discos nas velhinhas cassetes?

A segunda boa nova foi a confirmação da reunião dos Pixies. Ao que tudo indica vão entrar em digressão em Abril do próximo ano e, diz-se, gravar um novo álbum. Para mim, um fã devoto, esta foi talvez a grande notícia de 2003, mesmo que não ficasse muito surpreendido. Nos últimos anos têm sido habituais as reuniões de bandas que haviam posto termo à sua actividade para a realização de alguns concertos e até mesmo a edição de discos. Temos os exemplos dos Velvet Underground, Sex Pistols, Bauhaus, Trovante, The Doors, INXS, Roxy Music e Blondie. Questões monetárias? Talvez. A mim, e no caso dos Pixies, só me interessa que passem por cá e não desiludam. Pelo menos estão todos vivos e mantiveram-se bastante activos nos últimos dez anos para que não se deixassem enferrujar. Veremos do que são capazes.

A última boa nova, que fez jus ao velho ditado do “não há duas sem trêsâ€, surgiu mesmo antes de começar a escrever este artigo. A Lista B, encabeçada por Manuel Freire, venceu as eleições para a SPA. Nomes como Vasco Graça Moura, José Saramago, Pedro Abrunhosa e Daniel Sampaio não evitaram a derrota da Lista A. Terá sido pelo apoio declarado de Luiz Francisco Rebello, o presidente demissionário? Não se sabe. Sabe-se sim que foram precisos 30 anos para que concorressem duas listas. Ganhou o lema “Mudar é precisoâ€. E é mesmo preciso mudar muita coisa, principalmente no que respeita à renovação da imagem da SPA e à clareza de toda a gestão da instituição. Esperemos que a nova Direcção lhe devolva a credibilidade que em tempos teve. Os autores agradecem.
Jorge Baldaia

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