Topes 2011
· 12 Dez 2011 · 22:00 ·

Top 2011 · Top Portugueses 2011 · Topes Individuais · Momentos 2011 · Topes Ilustres

© Sofia Miranda



 

10

Sei Miguel & Pedro Gomes
Turbina Anthem
No Business


Um disco que é mais do que a simples soma das partes. De um lado o trompete mágico de Sei Miguel; do outro, as guitarras (eléctrica e acústica) de Pedro Gomes. O resultado deste encontro ultrapassou qualquer expectativa. Miguel e Gomes navegam entre dois pólos distintos: ora envolvendo-se num lirismo raro, o trompete doce a flirtar com a guitarra acústica, Chet Baker e folk; ora entram em confronto tempestuoso, guitarra eléctrica em choque com o trompete – convulsão, demónios e chamas. Guitarra e trompete atravessam géneros (jazz, rock, folk, etc.) interligando discursos, num fulgurante diálogo criativo. Neste disco, mais coerente do que aparenta à primeira vista, a versão eléctrica é apenas o complemento da acústica, isto anda tudo ligado, tudo faz sentido. Sei Miguel e Pedro Gomes fizeram um pacto e gravaram um disco. Este é um belíssimo conjunto de emoções intensas e ficará como monumento da música portuguesa contemporânea. Nuno Catarino

Bodyspace


 

9

Gang Gang Dance
Eye Contact
4AD


Posso estar enganado (não seria a primeira nem a segunda vez), mas não me lembro de os disc os anteriores dos Gang Gang Dance serem tão consistentes. Para usar uma expressão parva, porém verídica, Eye Contact é uma sólida colecção de faixas do caraças. Os interlúdios mais abstractos não distraem nem irritam, e as malhas partem loiça naquela maneira ligeiramente fora em que os gajos (e a gaja) são mestres. "MindKilla"? Fogo, na minha cabeça parte qualquer pista minimamente inteligente ao meio. Não tenho o disco aqui ao lado e só de pensar nessa faixa estou a começar a dançar ao de leve. E estou a escrever isto num autocarro. Mesmo que não haja o Tinchy Stryder a dizer "oh shit, Gang Gang", como havia no disco anterior, há sempre a voz marada da Lizzie Bougatsos e o som dança-experimental-rock-mundo dos Gang Gang, que é do caraças. E até o Alexis Taylor dos Hot Chip anda lá em modo faixa calma, o que pelo menos para mim é sempre bom. Rodrigo Nogueira

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8

The Weeknd
House Of Balloons


Chamam-lhe mixtape mas até lhe podiam chamar carro de bois, broche de por ao peito ou luz de presença. Independentemente da sua classificação, faixa etária ou estado civil, House Of Balloons é um dos documentos mais arriscados e brilhantes que 2011 quis parir por estas alturas de indecisão e dúvida. No primeiro de duas colecções de canções que editou em 2011 (e vem uma terceira), Abel Tesfaye, puto de 21 anos ou perto, empurrou o RnB para o futuro – ou algo muito distante - com a classe e bom gosto acessível a poucos. Fê-lo nem que para isso tivesse de se aproximar da coisa chamada pós-dubstep, piratear os indies Beach House ou Siouxsie and the Banshees. Fê-lo esculpindo uma produção maravilhosa que deu à luz maravilhas naturais como “High for this”, “What You Need”, “House of Balloons/Glass Table Girls” (não há coração que aguente a passagem entre os dois momentos, 3:35, mais coisa menos coisa) ou “The Morning”, naquela que é certamente uma das mais fortes e misteriosas sequências de 2011. Uma estreia memorável. Se calhar, como tantas vezes acontece, só mesmo em 2012 é que perceberemos realmente o que nos atingiu. André Gomes

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7

Halloween
A Árvore Kriminal
Sohiphop


Allen Halloween era um segredo que foi sendo transmitido de boca a boca por entre aqueles que tinham ouvido o anterior “Projecto Mary Witch”, e assistido a alguns dos seus concertos. Depois de “A Árvore Kriminal” deixou de ser um segredo e passou a ser uma voz indispensável à boa saúde do hiphop em Portugal, capaz de aglutinar públicos e sensibilidades. Nomes de respeito como Wu-Tang Clan, Jeru The Damaja, Young Jeezy, ou o portuense Fuse passam-nos pela cabeça ao ouvirmos este disco. Halloween é dotado de uma voz inconfundível e carismática, e de um flow que segue por montes e vales sem quebras de encadeamento, de uma capacidade de ser agressivo, contemplativo, soturno, empolgante, etc, faz com que muitos outros rappers pareçam demasiado...básicos. Presos a uma monótona afirmação de credibilidade. Composto na totalidade por óptimas canções, convidados sempre certeiros, e produção que combina na perfeição com as rimas e o ambiente que estas pedem, merece todo o destaque possível. Nuno Proença

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6

Fleet Foxes
Helplessness Blues
Sub Pop


B-E-L-E-Z-A
Podia ter escrito todo o texto com essa palavra. O azar é ter um limite ao qual convém aproximar-me. Porque “Helplessness Blues” é, muito simplesmente, o disco mais estonteantemente belo de 2011. Não se trata de admirar a técnica de harmonização de vozes dos Fleet Foxes, embora Robin Pecknold tenha um voz tão maravilhosa como o ar de uma montanha coberta de vegetação. Mas sim de reconhecer que aquilo que fazem com elas é criar canções que serpenteiam por caminhos de melodias que estariam escondidas à vista de todos, fazendo-nos pensar como é que ninguém encontrou algo tão reluzente antes. A diferença para o seu disco de estreia não é desde logo óbvia, mas manifesta-se no formato insinuante de algumas das peças contidas em “Helplessness Blues”, na sábia gestão dos espaços, da surdina e dos silêncios, ou na epicidade que está logo ao virar da esquina. Os Fleet Foxes já merecem um lugar na história pelos dois primeiros discos. É esse o destino dos mágicos. Nuno Proença

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5

Destroyer
Kaputt
Merge Records


Daniel Bejar is the man. 2011 não pertenceu senão àquele que melhor conduziu as palavras no meio das melodias, canções cheias de tudo, sem abandonar “Chinatown” no imaginário Noir de Polanski, ou que trouxe ao mundo “Suicide Demo For Kara Walker”, uma canção enorme, intemporal. Kaputt, obra maior deste tão feliz declamador, cantautor, o que lhe queiram chamar, é conceptualmente coesa, de fácil digestão. As canções evoluem com uma simplicidade que lembra outros tempos, quando apenas uma guitarra à lareira bastava para que se erguesse um hino, ou se fizesse um filho, sem ainda assim se dar à ingenuidade de querer ser maior que a própria vida. “Blue Eyes”, mais próxima do idealismo 80s, é a prova de como, com pouco, muito se faz pela humanidade. E o restante alinhamento não se afasta de tal premissa, descobrimos depois, em consonância com aquilo que são as boas práticas rítmicas, melódicas e harmónicas – falamos daquela bateria, sempre certeira, da dicotomia guitarra/sopros e, obviamente, de todo o cenário de fundo com o baixo no eixo da objectiva. É pura seda auditiva, que dá sede para mais. Se a fonte de Bejar desta genialidade tornar a jorrar, prometemos não nos deixar entediar. Simão Martins

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4

John Maus
We Must Become the Pitiless Censors of Ourselves
Ribbon Music / Upset The Rhythm / Flur


Personagem estranhíssimo, este John Maus. Quem é que faz um disco assim, tão copista e tão idiossincrático ao mesmo tempo? Quem se expõe desta forma, no limite do ridículo, na vertigem da pompa (cantemos todos, de mãos dadas, "Pussy is not a matter of fact")? Quem é que se lembra de sorver do mais fabuloso-piroso material (Jan Hammer) e pilhar Joy Division ou os urbanos-depressivos? Tudo sem ponta de ironia. Numa entrevista ao site Self-Titled, definiu bem o seu lugar ambíguo: "Não percebia que a música que estava a fazer era especialmente estranha". E acrescentou: "Honestamente, pensei que estava a fazer coisas ao estilo do ‘top’ 40. Só quando as pessoas me começaram a dizer aquilo é que percebi que o meu trabalho é entendido como algo diferente da ideia que tinha". É neste limbo pop/não-pop que Maus caminha, como o amigo e cúmplice Ariel Pink (mas com uma paleta sonoro menos abrangente). E há aqui uma grande canção, "Quantum Leap", toda ela força propulsiva de baixo sacada ao pós-punk e arrebatamento lírico insuflado numa voz dramática e sintetizadores borbulhantes. Pedro Rios

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3

James Blake
James Blake
Atlas


Este ano não seria o mesmo sem James Blake e o seu homónimo disco de estreia. Portanto, nada de estranho no facto de ocupar esta digníssima posição merecedora da mais reluzente medalha de bronze. Blake escreve e compõe, e muito. Mas fá-lo, antes de mais, para si mesmo, para gozo próprio, limitando-se a deixar a porta do quarto entreaberta para que os curiosos entrem e apreciem o que produz com afinco. Assim se cria intimismo entre o autor e o ouvinte. Em comunhão, descobrimos uma força anímica que possui uma química que nos deixa tranquilos e apaixonados. Pelo meio há murmúrios, há silêncios, há ruídos engenhosos onde deveriam estar notas musicais. Há pop envolta em possantes linhas de baixo. Há soul embrulhada em cadências reminiscentes do dubstep. Há uma beleza pura, simples que só podia ser primogénita da melancolia. Como já antes nestas páginas foi referido, James Blake é um prontuário de canções caseiras e certeiras, canções de recorte irregular, canções que mal começam e já nos estão a despachar, incentivando o loop para que possamos sentir e ressentir as minudências penduradas no tempo e no espaço. James Blake confirma uma vez mais uma teoria que soa, amiúde, simplista e banal: dos trabalhos mais simples nascem os prazeres mais genuínos. Uma teoria trivial, pois é. Mas o disco, apesar da produção modesta, de trivial nada tem. Rafael Santos

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2

PJ Harvey
Let England Shake
Vagrant


Se é verdade que Inglaterra sempre esteve, de alguma forma, presente nos discos de PJ Harvey, talvez nunca o tenha estado como neste seu último, e fantástico, disco. Com uma temática que alude a guerras e conflitos passados, mas sem nunca usar mão pesada e pompa despropositada (alô Cranberries). Por “Let England Shake” passa a ambiência dos velhos “moors”, onde PJ, apoiada na auto-harpa, e em arranjos parcimoniosos dos seus comparsas, usa a voz de maneira mais contida do que o que estamos habituados, mas, tal como em “White Chalk”, tem um poder evocativo tremendo. Recorre-se igualmente a referências e samples de músicas de autores como Eddie Cochran ou Niney The Observer, sabendo como integrá-los perfeitamente na sua música. Não vale a pena falar em “regresso à boa forma”. Quem disser isso não ouviu “White Chalk”. O que vale a pena é aplaudir Harvey por tão perfeita concretização de um conceito. “Let England Shake” é um monte de vendavais pós-catástrofe em forma de belíssima canção! Nuno Proença

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1

Panda Bear
Tomboy
Paw Tracks / Flur


Logo na primeira faixa Panda Bear garante que podemos contar com ele. E as hipotéticas dúvidas – é difícil guardar reservas quando falamos de alguém que nos tem dado alguma da melhor música dos últimos anos, tanto a solo como nos Animal Collective – desfazem-se à medida que vamos mergulhando em Tomboy. Se a maior parte dos discos não resiste a audições consecutivas, este como que cresce a cada viagem pelas suas onze faixas, de que “Slow Motion” ou “Last Night At The Jetty” serão paradigmas de excelência: música na vanguarda, sem se deixar enredar por modas fugazes, e que nos transporta para outras dimensões. As harmonias vocais envoltas em eco e as múltiplas camadas sonoras transmitem carradas de sensações, tanto nos fazendo dançar como elevar acima das ondas (em “Surfer’s Hymn”), cantar ou orar, na mais introspectiva “Scheherazade”. Já tínhamos apontado o número de temas do disco: onze, tantos quantos os jogadores que formam uma equipa de futebol, como a do Glorioso clube de que Noah Lennox é adepto confesso. “Benfica” encerra Tomboy como um golo dourado decide uma partida. E mesmo quem não liga a futebol se emocionará com o apoteótico clamor do Estádio, em vagas de louvor à vitória que, no final de contas, é o que todos ambicionamos e aquilo que Panda Bear mais uma vez consegue com este disco. Hugo Rocha Pereira

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30-21 | 20-11 | 10-1

 

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