Steve Mackay´s Radon Ensemble
Maus Hábitos, Porto
23 Jul 2004
© Carlos Oliveira

Os lendários Stooges e o seu mais do que carismático líder, Iggy Pop, acabaram por não estar presentes no Festival de Lisboa, nem no Festival do Dragão, nem no Festival de… bem, Lisboa, mas nem por isso Steve Mackay deixou de marcar presença no Maus Hábitos, com a sua Radon Ensemble. O saxofonista norte-americano é especialmente conhecido pela sua participação em Funhouse, o clássico dos Stooges que data de 1970. Depois da dissolução da banda de Iggy Pop, em 1973, Steve Mackay tornou-se numa espécie de free-lancer e tem trabalhado com artistas como Snakefinger (o guitarrista dos Residents) ou com os Violent Femmes. A estreita relação que entretanto estabeleceu com Portugal fez com que actuasse algumas vezes com os Mécanosphère de Adolfo Luxúria Canibal e com outros músicos Portugueses. Desta vez, a Radon Ensemble, um conjunto em constante metamorfose, incorporava o colectivo Soppa - Miguel Cardoso (baixo, laptop), Filipe Silva (guitarra), Jonathan Saldanha (bateria, metais) e Henrique Fernandes (contrabaixo) -, Gustavo Costa (bateria) dos Stealing Orchestra, Benjamin Bréjon (electrónica) e o incansável Scott Nydegger (electrónica) dos Mécanosphère, e o peculiar Kamilsky – um checo que é líder dos Koonda Holaa and the Beeches e que já participou nos Residents, Lydia Lunch, Death in June –, entre outros convidados.

Perante a quantidade de músicos convidados, a parafernália de instrumentos, equipamento e maquinaria era quase assustadora. Não havia um metro de palco que não estivesse repleto de material. Carlos Paredes, no dia do seu irreparável desaparecimento, não foi esquecido: uma foto a preto e branco do grande mestre da guitarra portuguesa aparecia colocada sobre a parede que ficava por detrás do palco. A Radon Ensemble foi surgindo, pouco a pouco, aumentado lentamente a massa sonora à medida que mais instrumentos se iam juntando à causa. As primeiras improvisações mostraram tendências noise e uma certa predisposição para composições que assentam na base da percussão que chegava a ser impulsionada por três ou quatro músicos ao mesmo tempo. Não raras vezes, Benjamin Bréjon açulou a Radon Ensemble com a sua electrónica; Jonathan Saldanha na bateria é imparável. As hipnóticas linhas de contrabaixo de Henrique Fernandes fizeram-se sentir muitas das vezes e com grande destaque mas é ao comandante da tripulação, Steve Mackay, que se deve atribuir maior notoriedade: o som do seu enferrujado saxofone comandou as operações na maior parte das vezes. Steve Mackay confessou estar perante uma das mais loucas ensembles que já reuniu e mostrou-se divertido em muitas ocasiões.

Quando Kamilsky tomou conta das operações – já perto do fim – o concerto acabou por ganhar outra dimensão. Munido de um djambé, foi gravando a sua voz, reproduzindo depois essas gravações em loop. Essas camadas de voz sobrepostas criaram hipnóticas paisagens onde se foram juntando as batidas quase tribais provenientes do djambé manuseado por Kamilsky. No final, e depois de ter pedido atenção ao público para o que se ia passar, Kamilsky apresentou à guitarra – e acompanhado ao saxofone por Steve Mackay – algumas canções country. Os dois músicos, já sozinhos em palco, mostraram dois ou três temas que finalizaram a peculiar actuação onde a imprevisibilidade e a transmutação foram elementos chave.
· 23 Jul 2004 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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