Goldfrapp
Coliseu do Porto
07 Jun 2003
Nos momentos que antecederam a actuação dos Goldfrapp, no passado dia 7 de Junho, em pleno Coliseu do Porto, a expectativa era grande. Mais pelo desafio de como os temas de “Black Cherry” se conseguiriam encaixar nos de “Felt Mountain”, do que propriamente pela forma como resultariam ao vivo. Mas as diferenças não se fizeram notar assim tanto, com os Goldfrapp a conseguirem um equilíbrio assinalável, muito por culpa de um alinhamento bem estruturado e onde souberam jogar com a proximidade de ambientes e a excelente voz de Allison Goldfrapp.

E foi para um Coliseu do Porto despido de gente, com a plateia e a tribuna longe de estarem bem compostas, que os Goldfrapp entrariam em palco. A chamar a atenção de todos, Allison. Mini-saia curtíssima, sapatos vermelhos de salto alto, boina preta e umas longas pernas (bem torneadas e desenhadas) a figura chave dos Goldfrapp emanava sensualidade e provocação por todo o lado. No entanto, ficaria aquém das expectativas, com a sua timidez a impedir os apelos à dança quando os temas assim o exigiam.

Do concerto podemos dizer que, e raras algumas excepções, foi sempre morno. Faltava gente, que saltasse, gritasse e dançasse. Mesmo assim ainda fomos brindados com dois encores, que acabariam por ser os momentos de grande manifestação do público, sempre muito preso e gélido, quase como se estivesse a imitar a postura de Allison. E nem mesmo o início do concerto, com “Crystalline Green”, “Human”, “Lovely Head” e “Train” a abrirem as hostilidades, foi suficiente para libertar os presentes das amarras da inércia. Talvez o espaço não fosse o indicado. Ou talvez estivessem todos à espera de outra coisa.

Mas a verdade é que, e apesar de tudo, os Goldfrapp provaram ser uma grande banda, com canções de arrepiar e capazes de nos atirarem para lá da realidade, para um mundo só nosso, misterioso, alimentado por sonhos e onde o glamour e a luxúria imperam. Sim, falamos de “Utopia”, esse conceito que existe em muitos, uma palavra que se faz canção e uma voz que corta a respiração, que se solta quando menos se espera num “Twist” eléctrico, empolgante e que exige muita gente de braços no ar em movimentos de dança assexuados. E era isto mesmo que se esperava que fosse o concerto dos Goldfrapp, alegre, frenético e cheio de vida. Faltou-lhe massa humana, esse factor determinante que faz dos bons concertos momentos inesquecíveis.

A terminar a noite “Black Cherry”, um tema mais próximo das sonoridades registadas em “Felt Mountain”. Encantador e com algumas doses de romantismo. E, se de repente, do nada caíssem estrelas? E caíram mesmo.
· 07 Jun 2003 · 08:00 ·
Jorge Baldaia
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