No último dia do Festival Electrónica em Abril duas propostas de diferentes abordagens, elementos e reconhecimento. Mais uma casa cheia para receber em primeiro lugar Frivolous, o projecto do canadiano Daniel Gardner que recebeu o apoio de selos como Karloff e Background. Com ar de calmeirão, vestia uma camisola onde se podia ler Wevie Stonder. Pouco depois de entrar já estavam em cena as batidas que não haviam de abandonar as colunas até ao final da actuação. Instalado numa mesa decorada com uma jarra cheia de rosas vermelhas, Daniel Gardner foi emprestando a sua voz aos temas através de um telefone vermelho (com fio da mesma cor), usa uma espécie de faca que produz um efeito bizarro, uma garrafa de água para gerar batidas e uma lata com sabe-se lá o quê para adicionar ruÃdo posteriormente filtrado por efeitos cuidadosamente seleccionados.
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Jan Jelinek © Angela Costa |
Mas na actuação por vezes curiosa, Daniel Gardner também foi tomando conta de uns teclados que não raras vezes faziam lembrar os franceses St. Germain, ou seja, algo que já não surpreende ninguém há muito tempo. De resto, indo directamente ao assunto, a actuação de Frivolous, apesar de ter posto a maior parte dos presentes a dançar, revelou-se uma sessão de techno fácil e de pouca substância, algo que se tornou óbvio depois de vinte minutos de desempenho. Teve o mérito de animar as hostes, mas isso nem sempre é suficiente – muito menos quando há quem consiga fazê-lo mostrando interesse e arrojo.
E agora algo completamente diferente, a actuação de Jan Jelinek, depois da passagem por Portugal, mas não esteve sozinho. Esteve acompanhando – e bem - pelo multi-instrumentalista Andrew Pekler (que assumiu funções na guitarra) e Hanno Leichtmann na bateria. Os três comprometiam-se a recriar os temas de Kosmischer Pitch - o último disco assinado por Jan Jelinek e com o selo da ~scape -, um disco onde o alemão segue pelas vias do krautrock e dos drones. Com efeito, os temas apresentados na actuação viveram da electrónica como base mas também do apoio da guitarra e da bateria na criação de temas apostados na repetição e na construção de crescendos que, regra geral, conduziam a momentos de algum caos sonoro de elevado volume – e aqui a bateria assumia muitas vezes o principal papel de motor.
E como, na sua maioria, a actuação não teve muitas variações, apenas há a referia o maior ou menor papel atribuÃdo em certas alturas a cada um dos elementos; ora era a electrónica que surgia em primeiro plano, ora era a bateria. A guitarra de Andrew Pekler poucas vezes se chegou à frente em termos sonoros. Apesar de menos celebrado do que o concerto anterior (e por razões óbvias), a actuação de Jan Jelinek e companheiros mostrou ser muito mais substancial, democraticamente informada e capaz de provocar elevação. E porque o futuro é deliciosamente incerto, estão desde já abertas as apostas para a poll que antecipe a próxima direcção a seguir pelo autor de Kosmischer Pitch.
andregomes@bodyspace.net