Machine Drum / Supersilent - Festival Electrónica em Abril 2006
La Casa Encendida, Madrid
22 Abr 2006
A quarta edição do festival Electrónica em Abril, depois da passagem em outros anos de nomes como Jamie Lidell, Murcof, Christian Vogel ou Sole, recebia uma fornada de nove propostas em duas salas da Casa Encendida (local privilegiado para a música electrónica na capital espanhola), na mesma rua de uma das várias entradas possíveis para o museu Reina Sofia. Três dias consecutivos. Uma sessão no auditório com um concerto a começar às 20 horas (sim, 20 horas) e uma segunda, no pátio, com duas actuações, a partir das 21 horas. Tudo isto com preços milagrosos. Uns míseros três euros para os concertos do auditório e seis para os concertos do pátio. Nesta sessão alvo de reportagem (inserida no segundo dia do festival), os nomes a actuarem no pátio (a partir do qual se podia ver o belíssimo interior do edifício) eram os de Machine Drum e Supersilent, dois projectos distintos dentro da música electrónica.

Em palco estava uma bateria, máquinas e, podia-se ver, uma guitarra. Entravam em palco os Machine Drum (em formato duo), um pouco depois das 21 horas, mas logo começaram a actuar. Machine Drum é um dos projectos (um dos mais conhecidos) do jovem Travis Stewart, que assentou em Orlando, na Florida. Ao vivo, os Machine Drum, partindo de uma base electrónica previamente preparada, dão constroem temas maioritariamente instrumentais de hip-hop com a ajuda de uma bateria e de uma guitarra (que por vezes fazia lembrar a de ESG, por exemplo em “Six Packâ€). Sobressaíram por vezes uma electrónica abstracta e algumas vocalizações, que no entanto nunca afastaram o duo do objectivo principal: o de arquitectar hip-hop a fazer lembrar por vezes DJ Shadow e na maior parte das vezes dançável que muito animou um pátio cheio de gente.

No meio dessa gente, uma personagem que se destacava por motivos óbvios. A chamada mascote do concerto. O perfil tipo é homem na casa dos 30, barba por fazer, copo de cerveja na mão, dança em círculos e incomoda toda a gente à sua volta, parece que conhece 50 pessoas na sala mas está claramente sozinho, pede um cigarro sempre que pode, e, se possível, finge conhecer os músicos em palco e manda-lhes bocas quando tem a oportunidade. Mas voltando à música propriamente dita, e pouco depois da saída dos Machine Drum do palco, subiam os noruegueses Supersilent, em modo trio em palco. Um dos nomes maiores do selo Rune Grammofon, os Supersilent são Arve Henriksen (trompete e bateria) Helge Sten (áudio virus), Jarle Vespestad (na bateria) e Stale Storlokken (teclados) e partem da electrónica mas apenas para se poderem movimentar depois pelo jazz, pelo hardcore, pelo noise. Apesar de tudo o nome Supersilent soa assaz irónico. Chegavam à Casa Encendida depois do lançamento do seu último trabalho, intitulado Supersilent 7, um DVD que mostra um concerto da banda em Oslo em Agosto de 2005, capturado em 16mm (a preto e branco) por Kim Hiorthoy.

Depois de alguns momentos de construção de uma paisagem onde os teclados, a bateria e o trompete apareceram em porções muito comedidas, assistiu-se a uma erupção sempre crescente da percussão. E como o concerto foi sendo feito regra geral com a sequência de contrastes, logo a seguir os Supersilent já estavam a remar de novo em águas calmas, com alguma espiritualidade, faziam flutuar cânticos e percussão leve sobre um manto de electrónica sombria. Por vezes, momentos de electrónica rude, bateria descontrolada e vozes quase pediam a entrada em palco dos italianos Zu – e quase nos lembramos por momentos quão curiosa seria uma batalha Supersilent VS Zu. No entanto, parece que nem todos os espanhóis estavam preparados para as descargas/paisagens dos Supersilent – já perto do final a sala encontrava-se um pouco menos cheia. O final no palco veio em forma de mais uma paisagem cerrada com trompete, electrónica de pulso baixo e bateria apenas a marcar presença. Mais uma belíssima vinda directamente da Noruega.
· 22 Abr 2006 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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