The Brights
Maus Hábitos, Porto
11 Mar 2004
À quarta noite do Festival Bor Land/Maus Hábitos o tempo previa um recolher obrigatório a horas decentes, deixando adivinhar um serão passado em frente ao televisor, no refúgio de mantas quentes ou com um aquecedor sempre por perto. O nevoeiro e a chuva, que não parava de cair, eram argumentos válidos para os que veneram o acto preguiçoso de ficar deitado, enroscado e ensonado no sofá. Mas como a melomania é um vício, muitos não resistiram ao chamamento dos The Brights e da sua pop cintilante, que tem tanto de imaturo como de brilhante.

Poderá um amor dar origem a uma banda? A pergunta pode parecer despropositada aos olhos de muitos, mas nunca para quem conhece a história dos The Brights. Sílvia Teixeira e Hugo Ramos (guitarrista dos Bildmeister) apaixonaram-se algures entre o Verão e o Outono. E logo descobriram que a música ocupava um lugar especial na sua relação, quase como se fosse a forma perfeita (é-o) de demonstrarem aquilo que sentem. Almas gémeas? Independentemente de o serem ou não, a verdade é que se entendem bem, pelo menos musicalmente. O resultado é um projecto que explora a pop como há muito não se via, fazendo da simplicidade melódica o ponto de partida para a construção de canções deliciosas. Conseguem-no com relativa facilidade porque não complicam, limitando-se a aproveitar a cumplicidade que os une e o dom que lhes deram – o de amar.

Se os dotes de composição do Hugo Ramos, a par da forma exemplar como domina a guitarra, já são conhecidos, da sua cara-metade nada sabíamos. Mas ao primeiro verso logo se percebeu que estávamos perante uma voz que ia deixar marcas. Num registo vocal a lembrar Marianne Faithfull, Sílvia Teixeira faz do cantar uma proclamação da sensualidade, um jogo onde a palavra seduz com uma facilidade rara. Impressiona, tanto quanto a sonoridade do projecto, algures entre The Go-betweens, Eels e Mazzy Star. Com efeito, os The Brights enquadram-se em catalogações e rótulos que vão desde a pop/indie ao blues/rock.

Mas nem tudo está imbuído da beleza que os artistas procuram. Apesar das canções resultarem no conceito voz-loops-guitarra, como no surpreendente “Evil comes again”, a falta de “qualquer coisa” torna-se evidente em alguns temas. Esta lacuna ganha força com a entrada do baterista Gil Ramos, também ele dos Bildmeister, na recta final do concerto. “Home” e a versão de “Head On”, dos The Jesus and Mary Chain, ganharam uma consistência que, anteriormente, nem sempre se fez sentir. Mas tudo indica que será por pouco tempo.

Os The Brights são como um amor recente, ainda verde e frágil. É preciso dar-lhe tempo para crescer e ganhar a maturidade necessária para fazer canções que sejam mais do que simplesmente doces e encantadoras. Sim, porque quando esse momento chegar, elas serão sedução.
· 11 Mar 2004 · 08:00 ·
Jorge Baldaia

Parceiros