Echo & The Bunnymen
Lisboa Ao Vivo, Lisboa
10- Fev 2019
Não foi preciso esperar muito para dar uma vez mais as boas-vindas aos Echo & The Bunnymen, que regressaram a Portugal para apresentar o "novo" The Stars, The Oceans & The Moon, álbum editado em 2018. "Novo", entre aspas, porque o disco mais não é que o reformular de algumas canções - e êxitos - antigos, de álbuns como Crocodiles (1980), Porcupine (1983) ou o aclamadíssimo Ocean Rain (1984). Não foi preciso, porque exactamente à hora marcada há um canto gregoriano a anunciar o início do espectáculo, com a banda de Ian McCulloch a subir ao palco pouco depois, envolta num #MarAzul de luz com fumo à mistura. Fossem todos os concertos assim...

Mesmo sem grandes novidades (ler: música mais recente), os Echo & The Bunnymen encheram o Lisboa Ao Vivo num domingo à noite, que não costuma ser um dia bom para o que seja. Sala absolutamente à pinha, o que significa que poucos ou nenhuns pensaram na segunda-feira de trabalho que se seguiria. Por estar à pinha, significou também que quem chegou mais tarde apenas conseguiu vislumbrar, sobre dezenas e dezenas de cabeças, os óculos escuros de McCulloch e aquilo que pareciam ser instrumentos musicais. Não que importasse muito. Havia "Going Up", logo a abrir, a transportar-nos para os recônditos anos 80 e para o álbum de estreia da banda de Liverpool.

Claro que, para muitos dos que estiveram ali presentes, os anos 80 ainda não morreram: sobrevivem ou nas suas memórias ou nas tardes passadas a ouvir a rádio com o mesmo nome e com um "M" à frente. Gente mais jovem, nem pensar; apenas um gótico nas grades, um clone de Samuel Úria entusiasmadíssimo junto à mesa de som, uma fotógrafa do Veracity e este mesmo que aqui escreve. Mas chega de aparvalhar: dizer que os Echo & The Bunnymen passaram do prazo porque o seu público parece ter passado do prazo é ser apenas cínico. A banda continua a dar concertos extremamente competentes, mesmo que seja o braço forte da nostalgia a puxar-nos para dentro do seu mundo.

E, durante o concerto, os Echo pareceram eles próprios nostálgicos: o órgão muito Doors de "Rescue" assim o ditou, tal qual a versão de "Roadhouse Blues" que acoplaram a "Villiers Terrace", ou a voz de McCulloch, que a dada altura parecia encarnar Morrison na perfeição. Mas também houve espaço para "Walk On The Wild Side", de Lou Reed, misturada com "Nothing Lasts Forever".

Os melhores momentos estavam reservados mais para o final, quando a banda se apercebeu da mina de amor que tinha diante de si: abaixam o volume dos instrumentos e deixam que o povo cante "Bring On The Dancing Horses", fórmula repetida na inevitável "The Killing Moon", já depois de toda a sala gritar com o primeiro acorde da cantiga (e alguns terem levado as mãos à cabeça em êxtase profundo). Dois encores colocaram um ponto final numa noite agradável: "Lips Like Sugar" (outra das inevitáveis) e "Do It Clean". Não existiram surpresas - o alinhamento foi quase o mesmo dos últimos concertos que têm dado - e as palavras de McCulloch, para além de uns "obrigados", foram parcas; mas existiu, e ainda bem, uma larga competência. Às vezes só isso basta. Ou falta.
· 19 Fev 2019 · 22:38 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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