RP Boo + Gabriel Ferrandini + Pedro Sousa
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
5- Jan 2019
Mais de 20 anos após ter nascido nas ruas e guetos de Chicago, o footwork tem percorrido o mundo e injectado uma dose saudável de evolução no contexto da música electrónica - evolução essa que, valha a verdade, é essencial para qualquer género musical que não queira permanecer estanque. Um dos seus maiores proponentes, e grosso modo o homem que o inventou, esteve novamente em Portugal, na Galeria Zé dos Bois, para duas sessões distintas dentro de um mesmo espaço temporal: mostrar-nos aquilo que pode ser o futuro, e aquilo que foi o passado.

Nesse primeiro caso, e o motivo de maior interesse para todos quantos se deslocaram até àquele espaço lisboeta, o cruzamento da música de RP Boo com a de Gabriel Ferrandini e Pedro Sousa (cuja importância no panorama da música feita em Portugal, em especial em terrenos jazz, é mais do que notória) proporcionou um olhar fabuloso sobre aquilo que uma música pode ser quando perde o medo de se encontrar com outras sonoridades - e isto é válido tanto para o norte-americano como para os portugueses.

Se nos primeiros 10, 15 minutos tudo ainda nos soou demasiado perdido em falhas de comunicação entre os três músicos, depressa se ouviu algo que pareceu ter realmente nascido através de um esforço comunitário (e assim foi: o que aqui se escutou foi fruto de uma residência artística, nesta mesma ZdB). Os ritmos e samples de RP Boo cruzaram-se na perfeição com a bateria de Ferrandini e com o saxofone de Pedro Sousa, numa mescla que não era bem footwork e não era bem jazz - era algo de diferente, único, e muito provavelmente irrepetível, e que fez tanto dançar como pensar.

O final soou demasiado abrupto - RP Boo aumentando e diminuindo o volume de forma a criar expectativa, enquanto Ferrandini / Sousa permaneciam imóveis -, mas não destoou muito daquilo que foi uma exibição de luxo de algo que nos era desconhecido à partida (sendo que foi exactamente isso que nos levou à ZdB: a busca pela novidade e pelo conhecimento). Ganhámos todos, e quem ficou para ver o DJ set do mestre até ao fim terá ganho ainda mais, porque aí pode ouvir de perto a história: do disco aos Kraftwerk, do G-Funk ao footwork. Nada mal, mesmo nada, para primeiro concerto do ano.
· 07 Jan 2019 · 19:23 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

Parceiros