Liima
ZDB, Lisboa
21- Mar 2018
Há uma melodia, quase infantil, que sai das colunas e vai aumentando, progressivamente, de volume. No aquário, reina o silêncio entre os presentes, e a atenção por aquilo que se está a passar em palco. A bateria lá se junta aquele som, em modo simples-não-simplista, conferindo o ritmo necessário. Eis os Liima, banda nascida a partir dos Efterklang, que veio até à Galeria Zé dos Bois para apresentar 1982, o seu novo álbum, lançado antes de Nuno Markl se lembrar de reavivar os perdidos anos 80.

O concerto esgotou, e isso parece ser prova de que os Liima conseguiram já alcançar um certo estatuto de culto, pelo menos entre alguma intelligentsia indie. Há, de facto, algo de gostoso a reter da sua pop electrónica que faz lembrar algumas coisas na berra, na década passada, o tipo de coisas que enchia pavilhões e Pitchforks. O ponto alto deste concerto dos Liima surgiu logo ao início: "Always", canção a fazer lembrar um qualquer êxito pós-punk antigo, como se fora cantado por David Bowie (e talvez Casper Clausen seja o melhor imitador de Bowie que conhecemos).

"Jonathan I Can't Tell You" foi dedicada pelo músico a "um grupo especial de pessoas", residente em Lisboa (sem chibar nomes), tema em que um assobio esperto depressa toma conta do espaço. No final, o público entoou os versos "fáceis", impelido pelo vocalista, que mais tarde haveria de se passear pelo aquário e fora dele, permitindo que aqueles que não conseguiram entrar na sala vissem pelo menos um bocadinho do seu rosto - depois de terem pago bilhete para não ver a ponta de um caralho. Mas acontece, não é?
· 25 Mar 2018 · 22:34 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com