Slowdive / Dead Sea
Lisboa Ao Vivo, Lisboa
8- Mar 2018
Listen close and don't be stoned...

Bastou o primeiro verso de "Alison" para que ficássemos imediatamente agarrados a Souvlaki, da primeira vez que o escutámos. O álbum pode não ter feito grande mossa na geração a que pertenceu, mas fê-lo - e muito - com as subsequentes; a juventude descobriu naquelas canções sonhadoras, amargas, um escape para a velocidade da vida moderna, um refúgio das batidas mais devastadoras e um óptimo analgésico para a dor de corno, mesmo que seja desse estado em particular que o álbum provém. Aos Slowdive foi dada a oportunidade de renascer, oportunidade essa que têm aproveitado com várias digressões e um novo disco, homónimo, o mesmo que vieram apresentar a Portugal, desta vez em nome próprio.

Acompanhados pelos Dead Sea, banda francesa cuja sonoridade não se distancia muito da dos Slowdive (ainda que se mostrem ligeiramente mais pesados e barulhentos - houve um soundcheck, horas antes do concerto, que comprovou isso mesmo), os autores de Souvlaki não incluíram grandes surpresas no alinhamento, que foi exactamente o mesmo que tem sido apresentado na restante digressão. Ainda assim, e mesmo que quem tenha consultado o setlist.fm já soubesse ao que vinha, a melancolia é real e palpável; não o poderia ser de outra forma. 25 anos depois do álbum que os fez entrar para o panteão do rock, que alberga tantos géneros diferentes, os Slowdive estão amadurecidos, coesos, espalhando ainda as mesmas sensações que - imaginamos - quem os viu nos idos anos 90 sentiu.

De "Slomo", canção com a qual abrem o seu novo álbum, título igual ao nome da banda, os Slowdive passam imediatamente para outra homónima - "Slowdive", primeiro tema do EP de estreia da banda, seguindo-se "Crazy For You", do mal-amado (à altura, como todos os outros) Pygmalion. O ruído, aqui, começa a elevar-se a níveis quase xamânicos, mas nunca mais chegou perto do ponto que se pretendia: uma fusão indistinta de noise e melodia, lavagem do corpo e da alma, sangramento dos ouvidos em tons de algodão-doce. A voz de Rachel Goswell, essa, mal se entendeu ao longo de todo o espectáculo, não que fosse preciso. Se as suas palavras são indecifráveis, há sempre um público que sabe a letra.

Não o soube em larga escala com o primeiro grande momento do concerto - "Souvlaki Space Station" -, mas reagiu, como não podia deixar de ser, a "When The Sun Hits", provavelmente a canção mais badalada dos Slowdive e aquela que, ainda hoje, mais faz tremer o coração. É inescapável: tem tudo: melodia, ruído, sonho, pop, guitarras, uma história de amor e perda, um medo adolescente, um crescendo fenomenal. Pouco depois, é "Alison" quem faz a sua estreia em Lisboa, mas por essa altura já o concerto estava ganho. Talvez tenha faltado volume, mas houve "Dagger", depressão em ponto de rebuçado, para nos aquecer numa noite chuvosa. Sejam bem-vindos de volta. Venham mais vezes.
· 14 Mar 2018 · 00:10 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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