António Zambujo
Coliseu, Lisboa
7- Dez 2012
Foi o disco Quinto, lançado neste 2012, que elevou António Zambujo para um outro patamar. Dez anos passados desde o primeiro álbum (O Mesmo Fado), Zambujo é agora um nome consagrado. Se o anterior Guia já lançava boas pistas, alcançou finalmente a aprovação de um consenso alagrado e chegou ao Coliseu dos Recreios. Já não é um fadista tradicional, Zambujo combina a essência do fado com a canção ligeira sofisticada, polvilhando com pózinhos de África e sobretudo do Brasil (via bossa nova). E é fundamental destacar o peso dos textos, sempre divertidos e inteligentes, onde se conta com a colaboração de alguns autores de renome - Nuno Júdice, Maria do Rosário Pedreira e José Eduardo Agualusa, entre outros.
Para este especialíssimo concerto no Coliseu a própria configuração da sala foi alterada: o palco ficou ao centro, deixando o público à volta, como um verdadeiro coliseu romano. Além da voz e guitarra de Zambujo, subiram ao palco Bernardo Couto (guitarra portuguesa), José Miguel Conde (clarinete e clarinete baixo), Jon Luz (guitarra e cavaquinho) e Ricardo Cruz (contrabaixo). O grupo conseguiu reproduzir com grande fidelidade o som das gravações - embora fosse pedida uma maior amplificação, para uma maior clareza, tendo em conta a dimensão da sala (e já que se fala das características técnicas, registe-se um aplauso para o excelente trabalho de luzes).
Quinto abriu o concerto, com uma sequência de temas memoráveis: “A casa fechada”, “Algo estranho acontece”, “Fortuna” e “Queria conhecer-te um dia” (divertida letra cheia de metáforas com expressões típicas da internet). Chegou depois o inevitável “hit”, “Flagrante”, música engraçada que retrata aquele aborrecido momento em que se é apanhado em pleno acto. Aumentaram as almas e logo a seguir foi despachado o outro êxito recente, “Lambreta” - desta vez a solo.
O momento-surpresa aconteceu quando surgiu um grupo coral de cante alentejano, que participou em três temas. Primeiro o grupo fez o acompanhamento coral em “O que é feito dela?” (um dos temas que encerra o disco deste ano), seguiu-se um tema tradicional e colaborou ainda numa outra canção em parceria com Zambujo. Se Quinto encheu boa parte da setlist do concerto, seria inevitável passar pelo anterior Guia (2010), que apareceu com três temas obrigatórios: o belíssimo “Zorro” (inevitável aplauso quando se passou pela referência ao Benfica), “Apelo” (adaptação do texto de Vinicius Moraes à melodia do “Fado Perseguição”) e “Reader's Digest” (elogio da mediania/normalidade) – foi mesmo este o fim oficial do concerto.
Zambujo regressaria para um muito pedido encore, que acabou por se concretizar em quase mais meio concerto extra. Regressou o grupo de cante alentejano, seguindo-se depois um dos mais belos momentos da noite: uma sublime interpretação a solo da “Valsinha” de Chico Buarque, acompanhada por um respeitoso silêncio de todo o Coliseu. Fez-se mais uma repescagem de Guia, “Em quatro luas”, com a voz em contraste com a subtil dissonância instrumental ao fundo. Para finalizar foram evocados dois clássicos absolutos: um fado de Alfredo Marceneiro e o über-clásssico “Foi Deus”, em duo com contrabaixo, para a despedida definitiva – bastou aquele arranque “não sei, não sabe ninguém” para nos fazer arrepiar todos os pêlos do corpo. Se o sucesso de Quinto era evidente, este concerto no Coliseu foi a consagração oficial de Zambujo como figura maior da actual canção nacional.

© Jonas Batista
Para este especialíssimo concerto no Coliseu a própria configuração da sala foi alterada: o palco ficou ao centro, deixando o público à volta, como um verdadeiro coliseu romano. Além da voz e guitarra de Zambujo, subiram ao palco Bernardo Couto (guitarra portuguesa), José Miguel Conde (clarinete e clarinete baixo), Jon Luz (guitarra e cavaquinho) e Ricardo Cruz (contrabaixo). O grupo conseguiu reproduzir com grande fidelidade o som das gravações - embora fosse pedida uma maior amplificação, para uma maior clareza, tendo em conta a dimensão da sala (e já que se fala das características técnicas, registe-se um aplauso para o excelente trabalho de luzes).
Quinto abriu o concerto, com uma sequência de temas memoráveis: “A casa fechada”, “Algo estranho acontece”, “Fortuna” e “Queria conhecer-te um dia” (divertida letra cheia de metáforas com expressões típicas da internet). Chegou depois o inevitável “hit”, “Flagrante”, música engraçada que retrata aquele aborrecido momento em que se é apanhado em pleno acto. Aumentaram as almas e logo a seguir foi despachado o outro êxito recente, “Lambreta” - desta vez a solo.

© Jonas Batista
O momento-surpresa aconteceu quando surgiu um grupo coral de cante alentejano, que participou em três temas. Primeiro o grupo fez o acompanhamento coral em “O que é feito dela?” (um dos temas que encerra o disco deste ano), seguiu-se um tema tradicional e colaborou ainda numa outra canção em parceria com Zambujo. Se Quinto encheu boa parte da setlist do concerto, seria inevitável passar pelo anterior Guia (2010), que apareceu com três temas obrigatórios: o belíssimo “Zorro” (inevitável aplauso quando se passou pela referência ao Benfica), “Apelo” (adaptação do texto de Vinicius Moraes à melodia do “Fado Perseguição”) e “Reader's Digest” (elogio da mediania/normalidade) – foi mesmo este o fim oficial do concerto.
Zambujo regressaria para um muito pedido encore, que acabou por se concretizar em quase mais meio concerto extra. Regressou o grupo de cante alentejano, seguindo-se depois um dos mais belos momentos da noite: uma sublime interpretação a solo da “Valsinha” de Chico Buarque, acompanhada por um respeitoso silêncio de todo o Coliseu. Fez-se mais uma repescagem de Guia, “Em quatro luas”, com a voz em contraste com a subtil dissonância instrumental ao fundo. Para finalizar foram evocados dois clássicos absolutos: um fado de Alfredo Marceneiro e o über-clásssico “Foi Deus”, em duo com contrabaixo, para a despedida definitiva – bastou aquele arranque “não sei, não sabe ninguém” para nos fazer arrepiar todos os pêlos do corpo. Se o sucesso de Quinto era evidente, este concerto no Coliseu foi a consagração oficial de Zambujo como figura maior da actual canção nacional.
· 10 Dez 2012 · 15:27 ·
Nuno Catarinonunocatarino@gmail.com
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