Elegância, inovação, sofisticação, contemporaneidade. Estas são algumas classificações que podem ser usadas para qualificar a música do Esbjörn Svensson Trio (EST). No entanto, estas mesmas palavras adequam-se também à Casa da Música, o magnÃfico espaço criado por Rem Koolhaas. É verdade, EST é música que se adapta na perfeição ao espaço moderno e confortável do Porto e quando isto acontece, quando a música é o espelho da sala, um concerto vale ainda mais a pena.
O trio sueco apresentou na sua maioria temas retirados do mais recente registo, Viaticum – já considerado, quase unanimemente, um dos grandes discos de 2005. No entanto o espectáculo abriu com uma música de Thelonious Monk – e haverá pianista mais importante na evolução do jazz moderno? Eventualmente, para que fosse feita justiça à história, deveria ser legislado que em cada concerto de piano jazz se incluÃsse um tema de Monk (pelo menos). E foi Monk quem abriu, mas logo se seguiram os (bons) originais.
© Marco Oliveira |
Com uma história já de uma década, este grupo revela uma solidez notável.
A orgânica e comunicação musical entre os três elementos é quase comparável
ao “standards trio†de Keith Jarret, Gary Peacock e Jack DeJohnette.
Nos momentos em que Svensson se deixa levar pelos rendilhados clássicos, aproxima-se
do lirismo de Brad Meldhau; mas, quando os temas crescem, gera-se uma intensidade
comparável aos The Bad Plus. E apesar da proximidade de referências há uma
marca muito própria, uma sonoridade inconfundÃvel. O trio desembrulhou versatilidade,
passando por vários estilos, mas sempre de modo fluido. Svensson sabe que,
mais do que o virtuosismo, interessa conhecer o valor da contenção. Aquilo
que apresentou foi música deliciosa, temperada por um equilÃbrio conjugado.
A música do trio sueco balançou entre a graciosidade, através das interpretações
irrepreensÃveis dos temas mais clássicos, e um invulgar arrojo formal – em
muito devido à adulteração do som por intermédio de filtragens. Por vezes
a transformação electrónica extraÃa do piano os sons mais estranhos, outras
vezes era o contrabaixo que se transformava numa guitarra eléctrica com pedal wah-wah. Como se Bill Evans se tivesse juntado a Jimi Hendrix para
uma jam session ali para os lados da Rotunda da Boavista.
O final mais que perfeito chegou com uma versão de mais um tema monkiano,
desta vez o sublime “’Round Midnightâ€. Os dedos tocaram no piano com a sensibilidade
de quem acarinha e, quase à meia-noite, foi a despedida ideal.
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