Vodafone Mexefest Porto
Rua Passos Manuel e cercanias, Porto
2-3 Mar 2012

© Angela Costa

A música pode ter tentado mexer na cidade, como indica o mote do evento, mas não é possível disfarçar a sensação de que apesar das tentativas de abanar, o terramoto prometido não terá passado de um ligeiro sismo. Entre sexta-feira e sábado, o Vodafone Mexefest fez um esforço – significativo – para agitar uma das principais zonas do Porto, que o é pelo menos durante o dia. À noite, as movimentações da cidade são hoje outras e isso não mudou.

Norberto Lobo © Angela Costa

À chegada à rua Passos Manuel, naquela intersecção com Santa Catarina, um eléctrico rodeado de duendes de fanfarra, que tocavam em intervalos de 15 minutos aquilo que já toda a gente sabe o que é desde que o fenómeno da música balcânica chegou a estes lados da Europa. Divertido, animado, mas terrivelmente estagnado, por entre a pipoca, o cachorro, o algodão doce e as bebidas, tudo espalhado ao longo da rua, prolongando-se por Sá da Bandeira até ao teatro, no qual este particular escriba pôs pé pela primeira vez desde Queens of the Stone Age, há sabe-se lá quantos anos (parece em melhor estado do que então).

Cass Mccombs © Angela Costa

Um dos pontos altos do Mexefest foi a diversidade de salas conseguidas, do estupendo Ateneu Comercial do Porto à Garagem Vodafone FM, sob os Maus Hábitos. Um dos pontos baixos é algo que já passará despercebido, ligado à qualidade do som: muitos dos espaços pecavam pela falta dela. O Teatro Sá da Bandeira terá sido o maior pecador no meio de vários mais ligeiros. No campo oposto, ouvir Norberto Lobo no Passos Manuel foi de uma nitidez cristalina. É curioso como cada vez que se assiste a um concerto do português parece que é tudo diferente e melhor. Ao contrário dos registos gravados, nos quais às vezes há passagens que passam despercebidas, em concerto Norberto Lobo é pleno, é deslumbrante na sua totalidade. Um dos pontos altos do festival, como não podia deixar de ser.

St. Vincent © Angela Costa

O Coliseu acolheu dois dos maiores nomes internacionais do evento, que estiveram à altura dos acontecimentos, independentemente de onde se quiser colocar a fasquia. St. Vincent na primeira noite encheu as medidas e foi além delas, com desvarios à guitarra agradáveis de se ver e ouvir, vindo de alguém que é tão controlada e austera, de certa maneira, em álbum. Nota para a descomunal malha que é “Actor Out of Work” e que deu uma alegria genuína a uma sala muito composta.

St. Vincent © Angela Costa

Por falar em salas compostas - e antes de ir ao outro artista de registo no Coliseu - o Mexefest teve momentos peculiares, talvez devidos ao SLB-FCP na noite de sexta-feira. Na maioria dos sítios foi sempre possível circular à vontade, ocasionalmente talvez demasiado à vontade para o gosto da organização. Porém, houve concertos de difícil acesso, como por exemplo Russian Red no Ateneu ou Salto no Passos Manuel, em horas aproximadas, que estiveram até a conta-gotas de público por lotação esgotada.

Russian Red © Angela Costa

George Lewis Jr., vulgo Twin Shadow, fez diversas referências ao facto de ser tratado como uma estrela de rock em Portugal. Agiu de acordo com a sensação, apesar de só trazer um álbum na bagagem, de uma pop engraçada, pontuada por momentos interessantes como “At My Heels”, que, curiosamente, soou pior em palco do que gravado. Entretidos, Twin Shadow foram capazes de pôr um Coliseu a dançar, o tal mexe com a cidade e mexe com os espaços. À saída da sala, deparamo-nos com uma rua pejada de gente a assistir a um concerto na pala do edifício, aquele que foi o palco favorito de quem vos escreve.

Salto © Angela Costa

Pela área da Passos Manuel era possível cruzar-se com muitas caras conhecidas, seja pessoalmente ou através do que já se viu em palco ou num grande écrã, como um muito bem disposto Zé Pedro (que actuou com os Ladrões do Tempo), Miguel Ângelo, Joaquim Albergaria ou, o destaque da casa, Catarina Wallenstein.

Josh ROuse © Angela Costa

Ao subir as escadas para o Maus Hábitos, passa-se por Luis Montez à conversa com o vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, Vladimiro Feliz. Na sala ao lado, Emika, sozinha com a sua electrónica, mostrava a tal sexualidade que já se tinha feito ouvir em disco, de forma competente, mas sem a intensidade esperada.

The Dø © Angela Costa

Outra curiosidade: enquanto decorria a segunda noite do Mexefest, o Fantasporto encerrava oficialmente no Rivoli com a projecção de um filme com música de David Byrne (que entra na película) e letras de Will Oldham. Coincidências da vida, apesar das críticas de Mário Dorminsky à escolha de datas do evento da Vodafone.

Twin Shadow © Angela Costa

O Porto viveu dias e noites preenchidas, qualquer que seja a opinião que tenha sobre os cartazes dos certames em causa. Gente na rua, talvez não tanta como se podia esperar, mas gente na rua, ainda assim. E é isso que se quer, faça chuva ou não.
· 06 Mar 2012 · 00:59 ·
Tiago Dias
tdiasferreira@gmail.com

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