Panda Bear / Dâm-Funk
Lux, Lisboa
12 Fev 2010
O cabeçalho reza qualquer coisa como: Noah Lennox e Damon Riddick fizeram pandam como brilhantes gestores do tempo num celebração decorrida no Lux.

Panda Bear © Mauro Mota

Por agora, Noah Lennox (Panda Bear) utiliza o piso inferior da sala lisboeta para partilhar com os vizinhos o estado actual das canções que está a preparar para o próximo álbum. Entre as memórias e os adereços, que vai conjugando de um modo caracteristicamente seu, contamos um mantra de vozes, uma batida aparentada de Everything But the Girl (favoritos do próprio) e o eco de sempre. Recuamos depois até 13 de Setembro do ano passado e, no Restelo, o Benfica faz o que quer do Belenenses, enquanto, nas bancadas, a claque sem nome puxa pelo sangue lampião para todos cantarem “E faz um golo allez, e faz um golo allezâ€. A beleza e intensidade dessa comunhão benfiquista ecoa no Estádio do Lux quando a transição entre dois temas é feita com um sample distorcido do cântico de uma claque de futebol (que não será certamente a Juve Leo). A noite estava ganha.

Panda Bear © Mauro Mota

O tempo avança até ao dia de lançamento de Tomboy, o novo disco de Panda Bear, que se descola de Person Pitch por força de algumas diferenças: a guitarra é mais saliente; a duração e a flutuação interna das músicas é, por sua vez, menor. A força do toque mágico de Rusty Santos permanece igual. Um flashback devolve-nos a uma noite de Abril de 2006, na Galeria Zé dos Bois, onde Panda Bear estreia algumas canções com o auxiílio de um par de samplers e voz. É essa a forma que encontra para despertar umas quantas cabeças para um namoro que só mais tarde seria consolidado com as sucessivas escutas de Person Pitch. Pois é, já nos apaixonámos por Tomboy e ainda não sabemos.

Panda Bear © Mauro Mota

Motivos não faltaram também para que uma multidão se apaixonasse por Dâm-Funk, o imparável anfitrião completo, que tornou difícil a vida de quem, a partir de agora, for obrigado a um DJ set no Lux. Espera... DJ set?! O homem canta, toca keytar, distribui discos, apela ao bounce e ao movimento dos bons rabos presentes, dança entre o público, anuncia os discos por artista e data: 1985, 1983, 1992. Num trajecto alucinante, Damon Riddick descreve um arco que une todos os funks e as mil vidas de Prince sob o mesmo tecto de pleno gozo físico. Em resposta a isso, o povo bate palmas em sincronia com o ritmo do boogie e unido num êxtase de ai que eu já não sei a quantas ando. Entretanto, a recta final dos anos 70 assume o fascínio por um futuro incerto à medida que a voz de Dâm-Funk é filtrada por um vocoder desrespeitoso para quem não sabe usufruir do foleiro. Tinha a noite na mão. E foi assim que Dâm-Funk deu ao Lux mais de cem boas razões para mandar à fava o Carnaval do Rio.

Dâm-Funk © Mauro Mota

Depois disto, a viagem termina em 2058 com as palavras de um velho de barba para o seu neto: Anda cá que o avô tem uma história para te contar sobre certa noite no Lux….
· 14 Fev 2010 · 21:28 ·
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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